domingo, 9 de setembro de 2012

NÃO ACEITO MAIS RECLAMAÇÕES

Tava de bode em casa e resolvi sair para espairecer um pouco. Se soubesse que essa simples saída de casa fosse me causar tantos aborrecimentos, não teria saído.
Encontrei com um conhecido na rua e acabamos parando numa sorveteria. Enquanto saboreava meu cascão de ferrero rocher com kiwi (combinação exótica, né? mas gosto de coisas exóticas), ele me pegou para saco de pancadas. Falou que estava insatisfeito com seu emprego, que o seu chefe lhe sugava até a alma, que todos os planos que fez na vida deram errado, que sua mulher e filhos só lhes causavam aborrecimentos, que pensava seriamente em se matar, em conseguir uma granada e sair por aí explodindo todo mundo. Enfim, ficou monologando por cerca de 40 minutos, desfiando um rosário de problemas, frustrações e obsessões. Como se só ele tivesse problemas, como se ele tivesse sido escolhido para ter uma vida amaldiçoada e má até o fim dos seus dias. 
Enquanto ele se queixava, o sorvete azedava a cada nova lambida. Minha cabeça parecia que ia estourar devido ao bombardeio de informações, informações além das quais o meu pobre cérebro poderia suportar. Minhas expressões faciais foram se transformando. Aquilo foi me irritando de tal forma, que decidi  não ouvi-lo mais. Ele falava, falava e eu só concordava através de acenos de cabeça, e sua voz foi ficando cada vez mais longe, mais longe, até sumir de vez. Fechei os olhos por alguns segundos, porque, apesar da voz ter sumido, seus lábios continuavam se movimentando, sem parar. E eu só concordando, com um: aham...  E fazia questão de lhe mostrar que o seu papo estava me irritando, mas o idiota não percebia. E falava, falava, falava... Ou melhor: reclamava, reclamava, reclamava... 
Eu queria mandá-lo à merda ou que procurasse um psicólogo pra falar de seus problemas. Mas fiquei quieto. Normalmente, eu falo o que penso, e se alguém me incomoda, saio rapidamente pela tangente. Mas permaneci ali. Eu só queria terminar o meu sorvete no meu ritmo, com calma. 
Depois de muito falar, ele deu umas batidinhas no meu ombro, se despediu e finalizou:
- Que bom te encontrar! Eu precisava mesmo desabafar. Agora estou bem melhor...
E saiu.
Ele tava bem melhor... Mas e eu???  Será que passou pela cabeça dele como é que eu estava me sentindo? Não, com certeza, não. 
Minha cabeça estava doendo. E eu estava sem forças para me levantar da cadeira. Fiquei nocauteado. Fechei os olhos e inspirei e expirei lentamente por cerca de cinco minutos. Em seguida, atravessei a rua e caminhei em direção a uma farmácia onde comprei um remédio para dor de cabeça. 
Depois de tomar o remédio, voltei para casa mais bodeado ainda. Além dos meus problemas, eu estava sobrecarregado de problemas de uma pessoa que mal conheço. E vim refletindo a respeito desse episódio.
Como as pessoas são egoístas e sanguessugas, não é? Será que eu seria a pessoa mais indicada para ouvi-lo naquele momento? Será que não passou pela cabeça dele que eu também estava mal? 
O que mais me deixou puto, na verdade, foi o fato de só ele falar. Não o interrompi em nenhum momento. Ele, talvez, nem queria isso. Queria encontrar um babaca para fazê-lo dele o seu saco de pancadas. Quando falo de egoísmo, me refiro ao fato de não haver troca. Eu também precisava desabafar. E ele não me ouviu. Por que eu teria que ouvi-lo?
Adoro ajudar os meus amigos, conversar sobre os seus problemas,  mas usando o diálogo, não o solilóquio. 
Ultimamente só tenho ouvido reclamações. E isso tem me cansado. Em vez de ficar reclamando, mané, vai viver a sua vida, vá trepar (sexo é um ótimo remédio), olhe pro céu, pro sol, pra lua, pras estrelas... Abrace uma árvore, deite na grama, na areia, vá dar um mergulho.no mar, num lago, numa piscina... Se não melhorar, tome veneno, dê um tiro na cabeça ou pule de um prédio e perceba que você, definitivamente, é um bosta.
E vou deixar um recado para ninguém mais me incomodar:
- NÃO ACEITO MAIS RECLAMAÇÕES.
Se quer falar comigo, vamos falar de coisas boas.
Tenho dito. E quem não gostou: VÁ TOMAR NO CU.


Julio Carrara 

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