quarta-feira, 9 de maio de 2012

APRESENTAÇÃO DELICIOSA

Nos períodos da manhã e da tarde deste domingo, dia 6, rolou uma apresentação de O Porta-Malas, dentro do projeto Coquetel de Cenas, do grupo de Teatro Delivery, idealizado por Roberto Borenstein, no CEU Quintas do Sol, no bairro de Cangaíba, região periférica de São Paulo.
Além de mim e do meu filho Eddie, que é responsável pela operação de som, estavam o próprio Roberto e Silvia e Eduardo Bruniera. Sílvia e Roberto também apresentaram seus trabalhos e Eduardo foi o nosso motorista.
Saímos de Higienópolis por volta das 8 da manhã. Pegamos a Marginal com o auxílio de um GPS, que a todo momento nos avisava:
- Você está fora da rota! Você está fora da rota!
Eduardo, é claro, se irritou com o aparelho (assim como nós) e decidiu seguir as placas. Infelizmente aquela região é extremamente mal sinalizada e, a todo o momento, ele parava para pedir informações em postos de gasolina ou para pedestres. Muitos não sabiam nos dizer onde ficava o CEU, e de repente, nos vimos em ruazinhas estreitas, esburacadas e com paralelepípedos, e que iam parar em lugar nenhum. Estávamos quase entrando em órbita. Depois de aproximadamente uma hora e quinze, chegamos ao CEU.
Fomos levados para a biblioteca, onde seriam realizadas as apresentações, e num camarim improvisado, a gente se preparava.
A primeira apresentação, Convite para um Café, de Roberto, atrasou um pouco, pois não havia público até o horário. E ele me perguntou:
- Será que não vem público?
- Se não vier, a gente faz do mesmo jeito. - respondi.
- É. - concordou ele. - Tem o pessoal que cuida da biblioteca. Fazemos para eles e nos assistimos também.
A organização fez a cagada de colocar outro evento quase no mesmo horário. Roberto começou o espetáculo com a plateia praticamente cheia, mas foi perdendo o público no decorrer do espetáculo, porque as pessoas iam ver a apresentação do Balé Stagium, que estava prestes a começar.
Isso nos frustrou bastante, principalmente ao Roberto, e a apresentação de Coquetel de Cenas que seria logo em seguida, foi transferida para o início da tarde, após a apresentação do Balé.
Por sorte, o público voltou para o Coquetel de Cenas.
Um pouco antes do início da apresentação de Convite para um Café, estava sentado ao lado do meu filho e disse para ele, após observar o público:
- Está vendo essas pessoas? Tenho muito tesão de me apresentar pra elas.
Eram pessoas pobres, mas não pobres de espírito. Estavam ali, interessadas, sedentas por conhecer o nosso trabalho. E não como o público dos grandes centros (há exceções), que vão ao teatro por não ter o que fazer, só pra passar o tempo ou para dar uma de "acadêmico" e querer analisar o espetáculo, os signos, a estética, os métodos utilizados e o caralho a quatro, usando expressões técnicas só para mostrar que entende do assunto. Fodam-se essas pessoas. Caguei pra elas e para as suas elucubrações intelectuais.
O Porta-Malas teve início. Tive muito medo de não conseguir dar conta. Eu estava com 5 bolhas nos pés, com o corpo todo dolorido, com dores de cabeça e garganta começando a inflamar, devido a gripe que estava se alastrando em mim. Mas não era uma gripe que iria me derrubar. Eu sou mais forte que ela e tinha um público me esperando. Pelo menos no tempo que durasse a apresentação, eu tinha que esquecer as dores de cabeça e no corpo, a inflamação na garganta e as bolhas que ardiam nos pés para estar inteiro em cena, dar o máximo de mim...
Fiz uma coisa inédita até então. Quebrei a quarta parede. Falava o texto olhando diretamente para o público. E isso me fortaleceu. Eles olhavam para mim e me jogavam a bola de volta. Eu não estava sozinho em cena. Estava contracenando com eles. Eu tive o público nas mãos. Conquistei toda a plateia e foi uma das melhores apresentações já realizadas, num total, até então, de 330.
Já pensaram se permito que a gripe me derrube e cancele a apresentação? Não teria esse retorno. Uma apresentação em que eu estiver presente, só será cancelada no dia que eu morrer. Se morrer no dia de apresentação.
Assim que cheguei à casa de Roberto, mal podia andar. As bolhas do meu pé haviam estourado e minha sola estava em carne viva. Fui pro chuveiro, tomei um bom banho e em seguida capotei, pois havia dormido apenas 2 horas na noite anterior.
E só depois que cheguei em casa, permiti que a gripe me atacasse. Tomei um remédio e não saí da cama, pois preciso estar tinindo na sexta-feira para outra apresentação. O público e a equipe com que trabalho, merecem o meu respeito. 

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