segunda-feira, 16 de abril de 2012

DE: PAI, PARA: FILHO

Porta se abre suavemente. O Pai se aproxima da cama do Filho.
- E aí, filho?
- Fala, paizão! O que manda?
- Nada demais... Vim aqui pra te curtir um pouco... Minha vida nesses últimos anos tem se resumido a trabalho, trabalho, trabalho... Estou ficando velho, os meus cabelos já estão ficando brancos e só agora é que me dei conta de que o meu garoto já é um homem...
- Ih, baixou a deprê, é? – sorri, zombando.
- Só um pouco de saudosismo do tempo em que você era criança... Como era bom te colocar pra dormir... Desde bebê, você segurava a minha mão e levava-a em direção ao seu coração. Eu te dava um beijo de boa noite e ficávamos quietinhos até você adormecer. Depois, lentamente, eu tirava minha mão com muito cuidado pra não te acordar, te cobria e depois continuava ali, velando o seu sono... Aí você cresceu e nunca mais segurou minha mão...
- Não seja por isso. Eu me deito na cama e você me dá a mão.
- Não é minha intenção te forçar...
- Você não tá me forçando a nada, pai. Há muito tempo eu queria te pedir isso, mas eu ficava travado, com receio de que você zombasse de mim.
- Eu nunca faria uma coisa dessas...
- Eu sei que não... Eu tô com uma frase entalada na garganta, preciso urgentemente te dizer, mas existe uma barreira, algo que me impede. E no entanto, é uma frase tão simples... Por que é tão difícil prum filho olhar pro seu pai e lhe dizer...
- O que, filho? Pode dizer...
- “Paizão... Eu te amo!”
O Pai explode num choro:
- Ah, filho! Eu também te amo... Muito!
- Me dá a mão?... E fica aqui comigo até eu dormir?
Filho coloca a mão do Pai sobre o seu coração, deitam-se na cama e permanecem ali, quietinhos, olhando para a lua cheia, que invade o quarto, através da janela aberta...


Para o meu filho Eddie,
a razão da minha vida.


Julio Carrara 

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