sábado, 18 de dezembro de 2010

O PORTA-MALAS É PREMIADO EM FESTIVAL DE MONÓLOGOS

Não é nenhuma novidade que esse monólogo escrito por Sérgio Roveri, exerce um incrível fascínio sobre mim. Mas nunca pude imaginar que o espetáculo tivesse vida longa. Estreei em julho de 2003 e até a data de 11 de dezembro, já fiz 251 apresentações. E nesta data o espetáculo ficou em 3º lugar no Festival de Monólogos de Piedade. Isso é assunto para vários posts. Postarei aqui uma matéria sobre o evento e em seguida as impressões de meus colegas sobre o mesmo evento.

Roberto Borenstein, Maria Cunha e Julio Carrara


RENASCIMENTO DE UM FESTIVAL


Depois de alguns anos de “sono letárgico”, o Festival de Monólogos de Piedade (um dos mais conceituados festivais desse gênero e que levou à cena em suas edições anteriores, espetáculos incríveis de diversas regiões do Brasil), renasceu na noite de 11 de dezembro de 2010, às 20 horas, na Casa da Cultura da cidade, à Praça da Bandeira, 133.
Numa justa homenagem, o evento foi rebatizado de “Festival Paulo de Andrade de Monólogos”, idealizador do projeto, falecido em 2008, e que durante muito tempo esteve à frente da Casa da Cultura, fomentando diversos projetos nas áreas de teatro, dança, literatura, artes plásticas e música.
Na edição 2010 do Festival, o Departamento de Cultura da Prefeitura Municipal de Piedade, contou com algumas parcerias que contribuíram para a viabilização do evento através do patrocínio do Sindicato dos Metalúrgicos de Sorocaba e Região, apoio de Provocare e Geleia Cultural e realização da Associação Cultural Votorantim.  
De 28 trabalhos inscritos, 5 foram selecionados. Os espetáculos, pela ordem de apresentação, foram os seguintes:
“O Porta-Malas”, de autoria de Sérgio Roveri, dirigida por Thiago Castro Leite e com interpretação de Julio Carrara, representando a cidade de Votorantim;
“Ser Redundante no Amar não é Pecado”, autoria, direção e interpretação de Berenice de Fátima Luiz, representando a cidade de Leme;
“Convite para um Café”, com direção de Edmilson Cordeiro e com autoria e interpretação de Roberto Borenstein, representando a cidade de São Paulo;
“Abortius”, dirigida por Julio Carrara e com autoria e interpretação de Maria Cunha, representando a cidade de Sorocaba;
“Os Malefícios do Tabaco”, de autoria de Anton Tchekhov, com adaptação, direção e interpretação de Leandro Bertola, representando a cidade de Ourinhos.
     Na mesma noite, meia hora após a apresentação dos monólogos, ocorreu a premiação. O corpo de jurados formado por Miriam Cris Carlos, Adriano Gianolla e (pesquisar o nome da terceira jurada) premiaram os seguintes espetáculos: “Convite para um Café” (1º lugar), “Abortius” (2º lugar) e “O Porta-Malas” (3º lugar).
Particularmente, o que mais me chamou a atenção, foi o nível altíssimo dos espetáculos além de possuírem universos diferentes e através de cada estética, deixarem o “lugar comum”, fugindo do tradicionalismo típico do monólogo.
Outra coisa que me deixou surpreso, foi saber que três trabalhos apresentados: “Ser Redundante no Amar não é Pecado”, “Abortius” e “Os Malefícios do Tabaco”, eram inéditos e que estreariam no Festival. Tem que ter muita coragem para enfrentar uma situação dessas. E por esse motivo, a equipe dos espetáculos citados acima merece toda a nossa admiração e respeito.
Sou suspeito para falar, afinal de contas participei do festival com dois espetáculos: um como ator e outro como diretor. E ambos foram premiados. Mas o que sempre trago comigo desde que comecei a participar de festivais, é que o mais importante não é o prêmio. Se ele vier, tudo bem. Se não vier, tudo bem também. O que me interessa é poder dividir experiências com os grupos. Saber o que pensam, de onde vieram, onde pretendem chegar...
Este Festival foi muito importante para todos os grupos que dele participaram. Desde o primeiro instante que nos vimos, sem egoísmo ou egocentrismo, nos abraçamos e como uma família, lutamos pelo seu renascimento.
Vou explicar o motivo: assim que chegamos à Casa da Cultura, fomos informados de que o evento poderia ser cancelado, que talvez acontecesse numa outra data e que seríamos reembolsados pela viagem até Piedade. Só que já estávamos ali, com tudo preparado e prontos para entrarmos em cena. Por que voltaríamos para casa? E de comum acordo entre grupos e realizadores, o Festival iria acontecer na hora e data marcada, conforme o regulamento.  E aconteceu.
Foi a primeira vez que vi cinco “concorrentes”, saindo juntos do alojamento, a pé, carregando mochilas e debaixo de chuva, tentando se proteger com um minúsculo guarda-chuva e com um metro de tecido. Parecia o Incrível Exército de Brancaleone se dirigindo à Casa da Cultura; foi a primeira vez que vi cinco “concorrentes” se aquecendo juntos no mesmo espaço e fazendo parte da técnica (como sonoplasta ou contrarregra) do espetáculo “concorrente”. Essa humildade e generosidade é que move a nossa profissão.
Infelizmente o evento foi pouquíssimo divulgado.  Vimos alguns banners espalhados pela cidade, mas não saiu nenhuma linha em nenhum jornal da cidade e nem nos da região. O Jornal Cruzeiro do Sul que costuma divulgar eventos de cidades vizinhas, não publicou nada a respeito. Consequentemente, o público que esteve presente no evento, foi pequeno, comparado com as edições anteriores. Porém, um público bastante receptivo.
No regulamento do Festival constava que 20 espetáculos seriam selecionados: 10 espetáculos seriam apresentados na sexta-feira (10), 10 espetáculos seriam apresentados no sábado (11) e a premiação aconteceria no domingo (12). Mas devido a algumas exigências do próprio regulamento, quem não apresentasse o DRT seria automaticamente desclassificado. E foi o que aconteceu. Por esse motivo, apenas 5 trabalhos profissionais foram selecionados. E o Festival que aconteceria em três noites, aconteceu apenas na noite do dia 11.
Fico muito chateado com isso. Já escrevi muito sobre o desrespeito que o Sindicato dos Artistas e Técnicos em Espetáculos de Diversão (SATED/SP), representado pela excelentíssima e digníssima ARTISTA PROFISSIONAL (ainda tenho as minhas dúvidas sobre o seu profissionalismo), Lígia de Paula Souza, tem com os artistas amadores. E devido a esse desrespeito, eles são impedidos de mostrar seus trabalhos em festivais como este. É uma pena porque além de castrar esses artistas, perdemos a chance de assistir bons espetáculos.
Agora é torcer para que o Festival de Monólogos tenha novas edições nos próximos anos e que se fortaleça após esse período de “letargia”. Que a edição de 2010 não seja apenas uma tentativa, mas a solidificação do festival em suas edições posteriores. Dificuldades existem, é verdade, mas não é motivo para deixar de produzir eventos como este.

Julio Carrara
Dramaturgo, Ator, Arte-Educador e Jornalista

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