segunda-feira, 23 de novembro de 2009

REFLEXÕES SOBRE A ARTE CÊNICA

Pegando o gancho do post anterior sobre Plínio Marcos, encontrei em seu site este manuscrito. É de arrepiar. Obrigado, meu grande mestre.


 

 

 

 

 


Segue abaixo o texto digitado por mim:


REFLEXÕES SOBRE A ARTE CÊNICA

Plínio Marcos


Teatro só faz sentido quando é uma tribuna livre onde se pode discutir até as últimas conseqüências os problemas dos homens.

A arte é uma magia. A gente aprende, mas ninguém ensina.

A técnica é uma coisa mecânica, disso ninguém duvida, mas os artistas, por mais sensíveis que sejam não podem dispensá-la. Precisa apurar a técnica com muito treino até incorporá-la totalmente até poder usá-la de forma que ninguém perceba que ele tem técnica. Isso. Tem que usar a técnica sem pensar nela, sem senti-la. Aí então o artista pode se valer da técnica para extravasar seus sentimentos. No sentido de aprender a técnica, a escola pode ser útil.

Existem dezenas de cursos de arte dramática na cidade. Existem milhares de aprendizes de ator nesses cursos. Porém só um número reduzido deles assiste aos espetáculos em cartaz. Esses estudantes querem ser artistas, mas não amam a arte. Alegam dificuldades financeiras para não verem as peças. Mentira. Não tem amor ao teatro. Por isso nem pensam em sacrificar duas cervejas por um bom espetáculo. O pior de tudo é que seus professores nem sequer sugerem aos alunos que devem ver os grandes atores em cena.


Um diretor não pode dar nada ao ator, pois não há o que dar. Um diretor pode instigar um ator a procurar o que precisa dentro de si mesmo, por mais que o ator insista em pedir luz ao diretor. Esse não pode ir além do limite de incentivador. Mesmo que tente, o diretor não conseguirá dar. Quanto mais tentar, mais diretor e ator vão se embrutecendo, se reduzindo, o diretor a um amestrador e o ator a um animal treinado. Nada que vem de fora ajuda o ator a criar o seu personagem. Este tem que nascer de dentro do ator, nutrido de coisas que estão dentro dele.

Um dia fui assistir um ensaio teatral. Não gosto disso, mas fui. Desse ensaio participavam um velho ator cheio de experiência, um jovem ator cheio de entusiasmo e um diretor cheio de sucessos. O velho ator se valia de truques, caretas, clichês. O jovem ator se esforçava, gritava, espumava, inchava a veia do pescoço, suava. O diretor com mau humor, tédio, desprezo pelo trabalho se limitava a corrigir marcas. Nem um deles procurava nada. Por que ensaiavam? Não sei.

Encontrei uma bela moça que se formou em Arte Dramática. Perguntei o que pretendia fazer. Sem constrangimento respondeu que tinha levado fotos numa agência de publicidade e aguardava chamadas para participar de comercias. Será que alguém precisa estudar para isso?

Eu logo reconheço quem está no teatro obedecendo a um imperioso apelo vocacional ou quem está procurando espaço para passear sua beleza. Aos primeiros, trato como irmãos. É gente que exerce seu ofício como sacerdócio. Merecem todo o meu respeito minha admiração meu amor. Do segundo tipo de gente tenho pena. Jamais a arte e a poesia vão brotar do interior de pessoas fracas.

Aonde existe autoritarismo, o artista é sufocado. O autoritarismo gera o obscurantismo que favorece o copiador, o bobo da corte e os senhores da estética decorativa.

     O crítico de arte tem muita importância no sentido de ajudar o artista a conscientizar o seu trabalho, a registrar se as propostas foram realizadas, as metas atendidas. Esse é no meu entender o papel do crítico.  Porém quando um indivíduo porque tem espaço em jornal, TV, rádio se nomeia crítico e passa a escarrar regra dizendo sem cerimônia o que o artista devia ou não devia fazer ou então se limitando a dizer que uma coisa é bonita ou feia, sem saber dar explicações, fundamentar suas opiniões, esse individuo não passa de um cretino daninho na medida da tiragem do jornal onde escreve, deve ser desprezado pelos artistas.  Porque pelo público são completamente ignorados.

    O ator começa a ficar soberano do seu talento quando ganha consciência de que entra no palco para servir e não para ser servido.

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