domingo, 14 de março de 2010

SOBRE RADIONOVELA

1 - O Formato Radionovela
Radionovela é um formato radiofônico, pertencente ao formato do humor, dentro do Gênero do Entretenimento. A partir de 1930 nos Estados Unidos e 1950 no Brasil, o gênero de programa radiofônico Radionovela trouxe encanto para multidões. E ainda hoje, o estilo radionovela seduz crianças, jovens, adultos e idosos porque explora o imaginário auditivo. A radionovela consiste em: elaborar uma história fictícia, transformá-la em peça radiofônica, produzi-la com tecnologia acústica num tom dramático e apresentá-la numa radioemissora para um determinado público-alvo.
A radionovela nasceu para nunca mais morrer! Ao longo das décadas, o formato da radionovela evoluiu. Nas radioemissoras da atualidade há muitos resquícios da radionovela tradicional. Mas, analisando atentamente a programação de toda e qualquer rádio, é possível notar a influência da radionovela nos outros gêneros radiofônicos. A radionovela originou também os Seriados de Aventura, episódios produzidos em estilo radionovela e transmitidos em datas e horários pré-estabelecidos, tal qual se dá com os seriados na televisão. Exemplos de Seriados de Aventura: "O Anjo", um playboy justiceiro, produzido e apresentado por Álvaro Aguiar, com episódios de 10 minutos, veiculados de 1948 a 1967; "Jerônimo", um herói do sertão, criado por Moysés Weltman; "Instantâneos Sonoros do Brasil", de Henrique Fôreis Domingues, cognominado de "Almirante, a Maior Patente do Rádio". No ano 2003, em Curitiba (PR), na Escola Superior de Estudos Empresariais e Informática (ESEEI), houve uma Oficina Prática que ensinava a produzir radionovela.
1.1 Produzir - Na radionovela, a fantasia pertence mais ao radiouvinte do que ao produtor da mesma. Crianças, jovens, adultos ou anciãos, todos gostam de ouvir histórias! Ouvir uma história é transportar-se no tempo e no espaço para uma outra realidade, a realidade imaginária. No drama clássico, o cômico se mistura com o trágico. A dramatização ativa algumas faculdades mentais: emoção, sentimento, expectativa, curiosidade... Um bom filme, um bom teatro, um bom episódio de novela ou radionovela, se bem dramatizados, geram emoções inesquecíveis.
1.2 Ouvir - A magia do som pode ser entendida como acústica, a qualidade de um espaço arquitetônico sob o aspecto das condições de propagação do som; ou, a parte da física que estuda as oscilações e ondas ocorrentes em meios elásticos, e cujas freqüências estão compreendidas entre 20 e 20.000 Hertz. Estas oscilações e ondas são percebidas pelo ouvido como ondas sonoras. Comandado pelo cérebro, ou seja, pela atenção, o ouvido humano ouve um som de cada vez, condicionadamente o som mais forte. A magia do som está em recriar um ambiente longínquo e dele extrair uma emoção agradável. Há diferença entre: a) ouvir: simplesmente perceber o som; b) escutar: atitude ativa; c) prestar atenção: intencionalidade; d) compreender: combinação entre escutar e prestar atenção para assimilar.
1.3 Imaginar - Imaginar aqui significa somar novas imagens às imagens já memorizadas, ou seja, fantasiar, de acordo com o repertório pessoal. A grande vantagem do imaginar, precedido pelo ouvir, é a de que cada pessoa pode fantasiar à vontade; e cada pessoa terá as suas próprias fantasias, irrepetíveis de uma pessoa para outra.
Considerações - Ver, ouvir, tatear, cheirar e degustar são fenômenos sensíveis que jamais serão superados. A esfera investigadora do conhecimento alia o Conhecimento Sensorial ao Conhecimento Intelectivo. Parece que toda comunicação, enquanto comum ação entre dois cérebros pensantes, parte dos cinco sentidos e a eles se refere. Haveria comunicação independentemente dos cinco sentidos?
2 - Características da Radionovela

A novela é uma derivação do romance-folhetim. O romance pode ser definido como uma descrição longa das ações e sentimentos de personagens fictícios, numa transposição da vida para um plano artístico. O folhetim é o fragmento de um romance publicado em um jornal dia após dia, suscitando o interesse do leitor; ou, um teatro móvel que vai buscar os espectadores em vez de esperá-los. Assim, novela vem a ser uma peça teatral ou romance, geralmente dividida em capítulos, escrita ou adaptada para apresentação seriada pelo rádio ou pela televisão.
O gênero radionovela seduz crianças, jovens, adultos e idosos porque explora o imaginário auditivo. José Fernandes de Oliveira, estudioso da comunicação em São Paulo (SP), conhecido como Padre Zezinho, produziu um vídeo em parceria com Edições Paulinas, no qual ele afirma: 83% dos conhecimentos humanos são captados pela visão, 11% pela audição, 3% pelo olfato, 2% pelo tato e 1% pelo paladar.
Um estudante memoriza 10% do que lê; 20% do que ouve; 30% do que vê; 50% do que vê e ouve; 70% do que vê, ouve e debate; 90% do que vê, ouve, debate e faz; e 100% do que vê, ouve, debate, faz e ensina. Depois de três dias, o homem lembra 10% do que ouviu; 20% do que viu; e, 65% do que ouviu e viu.
O sentido da audição ocupa um lugar importante nesse processo, até porque a pessoa, estando em vigília, ouve o tempo todo, ainda que involuntariamente; o olho pode ser fechado para não ver, mas não há como "fechar" o ouvido, pois mesmo de ouvidos tapados a pessoa continua a escutar.
Para pesquisar a radionovela, é necessário visualizar um processo de comunicação no qual se instaura um canal de comunicação (veículo rádio) entre uma pessoa (emissor) que produz um código sonoro (mensagem) e uma outra que ouve (receptor) e que decodifica o sinal; avalia-se o impacto (reação) do código sensorial (radionovela), considerando a interação (feedback) entre o emissor e o receptor, ainda que haja falhas de comunicação (ruídos) entre as duas mentes pensantes.
Histórica e fisicamente, a radionovela nasceu nos estúdios das radioemissoras, em transmissões ao vivo. Depois, migrou para a gravação de fitas magnéticas, discos de vinil e compact discs digitais. Ultimamente, está sendo utilizada em gravações eletrônicas digitais, podendo ser veiculada pela internet.
2.1 - A imagem auditiva - Enquanto nos meios audiovisuais o telespectador confronta som e imagem, no rádio a única arma é o som e a fala. Isso, fatalmente, desperta a imaginação do ouvinte que logo cria na sua mente a visualização do dono da voz ou do que está sendo dito. Se na televisão a imagem já vem acompanhada com a voz ou mesmo sozinha, no rádio o ouvinte tem a liberdade de criar a imagem do assunto/pessoa/fato com base no que está sendo dito. De acordo com Robert McLeish, quem faz textos e comentários para o rádio escolhe as palavras de modo a criar as devidas imagens na mente do ouvinte e, assim fazendo, torna o assunto inteligível. Ao utilizar o estilo dramático, a radionovela faz a mente humana transportar-se no tempo e no espaço, remetendo de imagens auditivas a imagens visuais. Pelo provérbio chinês, uma imagem visual vale por mil palavras; já a imagem auditiva não é expressa nem com mil palavras. É impossível descrever com o código verbal, oral ou escrito, os sons que o ouvido registra; exemplo: bater palmas. Até se pode usar onomatopéias verbais, exemplo, ploc-ploc-ploc; porém, é impossível descrever com palavras o som de um bater-palmas.
2.2 - A ficção - No Dicionário Aurélio, a ficção é definida como o ato ou efeito de fingir ou simular. Aqui no caso, é a criação ou invenção de coisas imaginárias. Na radionovela, a ficção tem que ser tão próxima da realidade que o radiouvinte não tenha dúvidas de sua verossimilhança. Grande parte da ficção tem base em fatos reais; por isso, a frase: "qualquer semelhança com a realidade, é mera coincidência".
2.3 - A fantasia - A fantasia é aquilo que não corresponde à realidade, mas que é fruto da imaginação; é o devaneio ou sonho. Por exemplo, a fantasia de carnaval é uma vestimenta que imita a veste de palhaços, de tipos populares exóticos e de figuras mitológicas; é uma máscara. Na radionovela, a fantasia pertence mais ao radiouvinte do que ao produtor da mesma.
2.4 - Os diálogos - Na radionovela, a "descrição de cenário" é feita pelos diálogos, dispensando tanto quanto possível o narrador; o narrador só deve entrar quando absolutamente indispensável na narrativa. Os diálogos devem simular fidedignos ao que as pessoas falam no metrô, no supermercado, ou na sala-de-estar de sua casa. Os personagens no rádio não só dizem o que estão fazendo, mas também revelam seus pensamentos íntimos pensando em voz alta, proferindo frases como quem escreve uma carta. Além da informação visual, do personagem e do enredo, o diálogo deve lembrar de vez em quando quem está falando com quem; a toda hora, precisa citar o nome dos interlocutores. O movimento e a distância têm de ser indicados pelos diálogos e pela técnica de produção da acústica. Sempre precisa-se criar uma perspectiva na mente do ouvinte. A passagem de uma cena para outra é feita pelas falas, pelos sons da natureza e mesmo pelo silêncio. Os personagens têm que falar com naturalidade, mas meio alto e devagar.
2.5 - A continuidade dos capítulos - A novela vai descrevendo um enredo que tem continuidade no tempo e no espaço. De um capítulo para outro, o importante é criar uma expectativa no ouvinte, mas com todo o cuidado para que haja continuidade no desenrolar da história, sem repetir o final do capítulo anterior e sem antecipar desnecessariamente uma trama futura. Pode-se, no entanto, intencionalmente recordar alguns episódios do capítulo anterior, através do flash back, ou antecipar algumas 'cenas' do capítulo seguinte, através do flash forward. No cinema e na novela de televisão, existe a figura da 'Continuity Girl' ou continuísta, que vai anotando todos os detalhes que se passam com os personagens: tipo de roupa, penteado; se usa relógio, brinco; se é de manhã ou à tarde, se há sol... Normalmente a mulher tem mais facilidade para observar e anotar esses detalhes, para que tudo pareça real e natural. Na radionovela, a continuidade dos capítulos depende do eixo narrativo entre os vários núcleos narrativos. É necessário manter a emoção e a expectativa, saciar a curiosidade do ouvinte e deixar espaço para a dedução própria dele.
2.6 - O esquecer e o recordar - A mente humana se serve dos cinco sentidos: o que o olho vê, o nervo ótico comunica ao cérebro e fica armazenado na memória; o que o ouvido escuta, o nervo auditivo comunica ao cérebro e fica na memória; o que a língua degusta, o sentido do paladar comunica para o cérebro; o que o nariz cheira, as papilas sensitivas, comunicam para o cérebro; o que o sentido do tato capta pelo corpo todo, o sistema nervoso comunica ao cérebro. São milhões de sensações que diariamente os sentidos enviam ao cérebro. E é o cérebro que faz a decodificação e o armazenamento das sensações, traduzindo-as em emoções, sentimentos e raciocínios. A grande maioria das sensações ficará alojada no inconsciente ou 'Id'; algumas sensações ficarão no subconsciente e apenas uma pequena percentagem ficará no consciente, que poderão ser recordadas voluntariamente. Na radionovela se faz recordar as emoções já sentidas pelo ouvinte, causando novas emoções.
2.7 - O ouvir de novo a mesma história - Tal qual uma fotografia de um ente querido que a pessoa gosta de ver, rever e se emocionar de novo, o mesmo acontece com um bom episódio de radionovela. Ainda que o ouvinte conheça o final da história, ele gosta de ouvir de novo, tanto para entender e memorizar melhor, bem como para reviver a emoção. Vida e Paixão de Cristo, gravada por sugestão de Dom Hélder Câmara em 1959 pela Radio Nacional do Rio de Janeiro, foi reprisada centenas de vezes. A Rede Globo de Televisão consagrou ao longo dos anos o Vale a Pena Ver de Novo, reprisando telenovelas.
2.8 - O sonho e a realidade - O primeiro significado de sonho é a seqüência de fenômenos psíquicos (imagens, representações, atos, idéias etc.) que involuntariamente ocorrem durante o sono. Num segundo significado, é a seqüência de pensamentos, de idéias vagas, mais ou menos agradáveis, mais ou menos incoerentes, às quais o espírito se entrega em estado de vigília, geralmente para fugir à realidade; é o devaneio, a fantasia. Num terceiro significado, o sonho é aquilo que enleva, transporta, pela extraordinária beleza natural ou estética. Já a realidade é aquilo que existe efetivamente. Muitas vezes se diz "realidade nua e crua" porque cheia de sofrimento e dor. Uma das características da radionovela é fazer a pessoa sonhar acordada, transpondo-se para um mundo imaginário, cheio de possibilidades e prazeres, abstraindo-se da realidade "nua e crua".
Considerações - O binômio ficção/emoção deu suporte à radionovela, porque havia um elemento novo: sentir aquilo que não era vivido por ninguém, mas que poderia se aplicar a qualquer pessoa. Acompanhar diariamente os capítulos da radionovela era enclausurar-se imaginariamente numa cela, onde a expectativa ficava por conta do suspense para o dia seguinte. A fantasia se misturava à realidade. Diz-se que a arte imita a vida, mas às vezes, a vida imita a arte. Através da arte se pode expressar muitas verdades que não podem ser expressas diretamente, sob pena de represálias. Assim já vinha acontecendo com o teatro, com a música, com o cinema, com as caricaturas... Com muito tino, a radionovela podia falar dos costumes, da política, da sociedade, da religião, da família, da educação e do assunto que fosse, sem represálias. A trama da vida passou a ser copiada da caixinha sonora para a realidade.
A radionovela utiliza vozes humanas e sons naturais e mecânicos para reproduzir um ambiente sonoro distante. A ficção toma por base fatos reais para ser envolvente. E quem é que poderia ficar sem reagir ao ouvir um telefone que toca ou ao ouvir o alerta de uma sirene? Aliando o sentido da audição ao sentido da visão, foi a radionovela que originou a Telenovela, isto é, a novela da televisão.
Na atualidade, não mais existem radionovelas, no sentido de se veicular um capítulo por dia; mas, existem produções independentes. Desde que surgiu a edição digital do áudio (por computador) e a gravação de CDs, ressurgiram as produções no formato radionovela; são campanhas de saúde, mensagens religiosas, histórias infantis, episódios humorísticos, reclames comerciais, ou simplesmente, histórias. Alguns DJs (disk jokeys ou dji-djeis) que utilizavam os discos de vinil para produzir sons metálicos aderiram à edição digital, favorecendo a radionovela.
O formato radiofônico Radionovela é uma das "linguagens" em rádio. Existe uma retomada insipiente da produção de radionovelas, embora sejam histórias de poucos minutos, contendo começo, meio e fim. Certamente será criado um novo estilo de episódios de radionovela, agora gravados em CD ou disponibilizados na internet. Certamente surgirão novos profissionais aficcionados nesta arte. Anuncia-se a vinda de radios in door veiculados pela internet e que poderão utilizar a radionovela. E os cyber-ouvintes novamente ficarão encantados como os de antigamente.
"[a internet] ... permite a transmissão de som, ao vivo, ou gravado, a baixíssimo custo, de qualquer parte para qualquer parte do mundo, sendo um instrumento de grande utilidade para a produção de radiojornalismo. E, sobretudo, permite que qualquer um, com pouco investimento e independente de autorização estatal, monte sua própria emissora na web, por enquanto ainda restrita a ela e necessitando um computador na outra ponta para ouvi-la, mas que promete muito em breve se liberar dessas restrições: a internet sem fio está em pleno desenvolvimento e dentro de mais algum tempo as web stations poderão ser ouvidas nos automóveis ou em receptores portáteis de bolso, como os celulares."
É interessante coletar e analisar algumas produções de radionovela da atualidade, produzidas por: Rádio América de São Paulo, Rádio Clube Paranaense, Associação Palavra Viva, SEBRAE, Instituto Legislativo Brasileiro (ILB), produções independentes... E especificamente de Curitiba-PR, é interessante analisar o áudio do auto-de-natal que é apresentado pela Fundação Cultural de Curitiba, através do Grupo Lantéri, na escadaria da Universidade Federal do Paraná no mês de dezembro; ou, o áudio da Paixão do Senhor apresentada na Pedreira Paulo Leminski na sexta-feira da semana santa... Nesses espetáculos apresentados para o público, todo o áudio é pré-gravado; na hora da apresentação, os atores dublam as falas. Na produção do desenho animado, às vezes, se produz primeiramente o áudio e as imagens, produzidas por animação gráfica, vão sendo encaixadas depois.
A radionovela é tida como arte e ciência. Um portador de deficiência auditiva total (o surdo) é considerado deficiente, pois é uma pessoa desprovida das funções sensoriais normais. Privar-se da radionovela seria como buscar voluntariamente uma deficiência na comunicação. Deve-se a isso o presente esforço em trazer à tona a radionovela.
Resumo: Na década de 1940, o gênero radiofônico radionovela, também conhecido como radioteatro, trouxe encanto para multidões, antes de existir a novela televisiva. Explorando a emoção, o Formato Radionovela é usado ainda hoje para veicular mensagens, com um resultado muito eficiente. Trata-se de elaborar uma história fictícia, transformá-la em peça radiofônica, produzi-la com a tecnologia acústica dramática e apresentá-la numa radioemissora para um determinado público-alvo. Uma vez ouvida, a radionovela gera emoção. No rádio, hoje-em-dia, quase não há mais o gênero Radionovela no sentido de se ouvir no rádio um capítulo por dia; contudo, há muitos resquícios do Formato Radionovela na forma de episódios humorísticos e religiosos e mesmo anúncios comerciais. Ao utilizar o estilo dramático, a radionovela faz a mente humana transportar-se no tempo e no espaço, remetendo das imagens auditivas a imagens visuais. Com a evolução da tecnologia na captura e produção do som, o Formato Radionovela está ressurgindo, tanto nas radioemissoras como nas produções independentes e na internet. Hoje, a radionovela é produzida com o mouse do computador. Basta ter instalado um software de áudio, qualquer usuário de computador pode produzir episódios de radionovela; não é mais necessário levar todo um elenco a um estúdio. Para estudar o Formato Radionovela, é necessário conhecer a história do rádio e o surgimento dos gêneros radiofônicos. E, na seqüência, deter-se nas características desse formato, nas técnicas de produção e no seu poder de alcance. Desse gênero radiofônico originou-se a Telenovela. O Formato Radionovela jamais será superado.
3 - A Palavra Declamada na Radionovela
Uma palavra - significante - assume diferentes significados de acordo com a entonação da voz com a qual é pronunciada, ou de acordo com o contexto. Por exemplo, a palavra 'livro', pode carregar em si um encanto, uma decepção, um ímpeto, uma expectativa...
3.1 - As origens da fala - Considera-se que começou existir diferença entre grupos humanóides e símios mais ou menos um milhão de anos atrás. Nessa fase, a comunicação entre os indivíduos acontecia através da mímica. A laringe - orifício entre a fossa nasal e a cavidade bucal - nos humanóides, só foi se desenvolvendo mais ou menos 400 mil de anos atrás; os símios e os outros mamíferos não desenvolveram a laringe. Com o surgimento da laringe, foram se desenvolvendo as cordas vocais e já eram possíveis os grunhidos humanos. As primeiras palavras faladas estão situadas mais ou menos em 100 mil anos atrás. As Primeiras linguagens faladas por grupos nômades, 50 mil anos atrás. As línguas primitivas já eram faladas desde o Paleolítico Superior, 10 mil anos atrás, no Egito, na Babilônia, na China; pelo ano 3000 AC, na Fenícia, depois na Grécia, e em Roma.
3.2 - As origens da escrita - As mais antigas inscrições rupestres datam de mais ou menos 30 mil anos atrás. Os primeiros registros da escrita estão situados na Suméria, pelo ano 5000 AC; era uma escrita cuneiforme, feita sobre tábuas de argila úmida que depois era secada. Pelo ano 3400 AC, já existia a escrita pictográfica em papiros (planta), no Egito. Pelo ano 1500 AC, os Fenícios inventaram o primeiro alfabeto, base do alfabeto hebraico, grego e latino. No ano 150 AC, na cidade Tróia, o rei Êumenes usava pergaminhos (pele de animais). No ano 105 AC, na China já havia uma escrita feita em uma espécie de papel; contudo, o papel chegou à Europa só pelo ano 1200. Com a invenção da escrita, a humanidade emergiu da pré-história para a história. No início, cada povo com a sua escrita; hoje com uma escrita 'globalizada'.
3.3 - A evolução da palavra - Dos grunhidos humanos, surgiram os fonemas e as palavras. Das palavras, as linguagens faladas e depois, escritas. Pelo ano 9.000 AC, com a domesticação de animais e o início da agricultura, quando alguns grupos humanos deixaram de ser nômades, as linguagens faladas foram evoluindo. Aos poucos, as palavras foram sendo aglutinadas, formando expressões, frases e silogismos. Com as primeiras civilizações, o início da cultura.
3.4 - A insuperação da fala - As primeiras linguagens faladas por grupos nômades datam de mais ou menos 50.000 anos atrás. Hoje, por mais avançada que seja uma civilização, ela nunca poderá dispensar a fala. Tecnologias de comunicação vão se revezando, mas a fala nunca será superada.
3.5 - O tom de voz - O tom de voz refere-se à altura de um som, isto é, à qualidade sonora da voz humana. Um cântico nada mais é do que a modulação do tom de voz ao pronunciar palavras. O tom de voz está diretamente ligado às vivências emocionais e sentimentais de uma pessoa. Na radionovela, a entonação da voz é um recurso causador de emoções.
3.6 - A palavra declamada - quem é que não se encanta com um jogral ou com uma poesia bem declamada? No jogral ou na poesia já está a arte da palavra declamada. Declamar é recitar em voz alta, com os gestos e entonações apropriadas. Na Idade Média, era chamado de jogral o trovador ou intérprete de poemas e canções de caráter épico, romântico ou dramático. No teatro, o poema dramático refere-se às peças e espetáculos nos quais os elementos psicológicos, dramáticos, visuais, musicais e coreográficos convergem para o simbólico, o fantástico, o lírico. Na radionovela, tanto o narrador como os atores vocais trabalham com a palavra declamada.
3.7 - A palavra cantada - Na liturgia cristã, do cantarolar dos salmos por parte dos monges, surgiu o canto gregoriano, uníssono. Do gregoriano, surgiu a polifonia. A música sacra ajuda a compor o clima de oração por estar ligada a sentimentos mais nobres. Óperas ou simples composições musicais estão ligadas à palavra cantada, expressando alegria, romantismo, drama, vigor..., enfim, sentimentos os mais variados. A música é a arte e ciência de combinar os sons de modo agradável ao ouvido. Música de cena é o conjunto das peças musicais destinadas a acompanhar determinados momentos de uma peça teatral. Na radionovela, a palavra ora pronunciada, ora declamada, é entremeada pela palavra cantada, mantendo o ritmo sentimental.
3.8 - A garganta e a emoção - embora as emoções se processem no cérebro, o organismo somatiza as emoções na garganta. Uma pessoa angustiada cria o nó na garganta, refletindo a sensação de constrição causada por um abalo emocional; inclusive, uma angústia prolongada causa enfermidades na própria garganta e em todo o aparelho digestivo. Já uma pessoa alegre solta a voz, gargalha, canta e grita. Basta comparar um aluno reprovado no exame com um torcedor fanático que vê seu time sagrar-se campeão. Num artigo publicado pela revista Time, o autor Michael D. Lemonick indaga já no título:
"Até que ponto as emoções estão ligadas à saúde física?" Diz ele que "os pensamentos e emoções que parecem colorir nossa realidade são o resultado de interações eletroquímicas complexas entre e dentro de células nervosas. Não apenas a mente é como o restante do corpo, mas o bem-estar de um deles está intimamente ligado ao do outro. Isto faz sentido porque eles compartilham os mesmos sistemas nervoso, circulatório, endócrino e imunológico. O que acontece no pâncreas ou no fígado pode afetar diretamente a função cerebral. As desordens no cérebro, da mesma forma, podem enviar ondas de choque bioquímicas que perturbam o restante do corpo".
Na radionovela, autor e ator exploram o campo emocional, alterando o humor do ouvinte. Uma tosse ou um pigarro pode ser a reação do ouvinte à narração radiofônica.
3.9 - Os filtros da voz humana - Na edição informatizada da radionovela, há vários filtros para a voz humana, através dos quais pode-se processar alterações na voz humana. Pode-se modular o grave e o agudo, o sibilar e o gutural, o aveludado e o estridente. Alterando a velocidade para maior ou menor do que a natural, também se obtém certos efeitos vocais interessantes.
3.10 - Os efeitos eletrônicos - Com os aparelhos eletrônicos informatizados, pode-se criar efeitos na voz humana, tais como eco e reverberação, muito convenientes na produção radiofônica. Outros efeitos sonoros, independentes da voz humana, também podem ser criados e consagrados com o uso, como o sibilo do "fiu-fiuuu-Brasil-zil-zil..." utilizado em transmissões de futebol. Tal qual o cão de Pavlov, o radiouvinte interage com os efeitos sonoros que lhe chegam aos tímpanos.
3.11 - Orientações de Redação - Na radionovela, para se obter os resultados desejados, é necessário observar o manual de redação da linguagem radiofônica. O objetivo da mensagem radiofônica é fazer com que o radiouvinte participe emocionalmente da mensagem. O redator de script de radionovela precisa saber que ele escreve um texto para ser ouvido, não para ser lido; ele tem que se colocar no lugar do ouvinte, não do leitor. As Orientações de Redação, a seguir, se referem à estrutura gramatical, lingüística e estilística, tendo em vista o "texto para os ouvidos":
- decida o que você vai dizer;
- faça uma lista das suas idéias numa ordem lógica;
- torne a abertura interessante e informativa;
- escreva para o ouvinte individualmente - visualize-o enquanto escreve;
- fale em voz alta o que você quer dizer, depois tome nota;
- use "sinalizadores" para explicar a estrutura da sua fala;
- crie imagens, conte histórias e apele para todos os sentidos;
- use a linguagem coloquial comum;
- escreva sentenças ou frases curtas;
- utilize a pontuação de modo a tornar a locução clara para o ouvinte;
- digite o roteiro em espaço duplo e com margens amplas e parágrafos nítidos;
- quando estiver em dúvida, mantenha a simplicidade;
- forme frases em ordem direta - sujeito, verbo, complemento;
- use frases curtas e sintéticas, vá direto ao assunto;
- evite palavras difíceis e compridas buscando sinônimos;
- evite os adjetivos;
- use o verbo no presente do indicativo, causando atualidade;
- não use pronomes possessivos e demonstrativos;
- só use figuras de linguagem que estejam incorporadas ao uso comum;
- evite termos técnicos e científicos e palavras estrangeiras;
- evite rimas, sibilância e repetição de sons parecidos ou iguais;
- evite cacófatos e repetição de palavras;
- não iniciar frase com números;
- no script, use parênteses apenas para sinalizar a pronúncia correta;
- leia em voz alta o que você escreveu para identificar a boa sonoridade.
Considerações - Há várias maneiras de produzir arte com a palavra oral, que no rádio se transforma em som (significante) e conceito (significado). A fala humana evoluiu ao longo de milhares de anos. Na radionovela, a palavra declamada tem que ser precisa, bem escolhida e pronunciada na entonação adequada, pois ela é portadora de um significado que não pode ser traído. É a palavra, dentro do contexto requerido, que desencadeia as interações eletroquímicas complexas, que perpassam ouvido, nervo auditivo, cérebro, neurônios e o corpo todo. Esse fenômeno é tão imperativo o quanto um sargento bradar ao soldado Ordinário, marcha!, e o soldado marcha. Assim, a palavra bem declamada passa a comandar mente e corpo, numa intrínseca sincronia.

4 - Recursos Sonoros na Radionovela
O rádio é basicamente emoção e o único recurso com o qual ele conta é o som. A grande vantagem do rádio sobre os meios impressos está no som da voz humana, portadora de entusiasmo, compaixão, raiva, dor ou riso. A voz é capaz de transmitir muito mais do que o discurso escrito. Ela tem inflexão e modulação, hesitação e pausa, uma variedade de ênfases e velocidade. A vitalidade do rádio depende da diversidade de vozes utilizada e do grau de liberdade no uso de estilos de frases e expressões locais pitorescas. Despojado das imagens que na televisão acompanham a locução, o rádio é capaz de gerar grande sensibilidade e um alto grau de confiança. Na radionovela, o principal recurso sonoro é a voz humana; os outros sons, naturais ou mecânicos lhe são complementares.
4.1 - A recriação de um ambiente longínquo - A onda hertziana está presente em toda parte, basta ser sintonizada por um rádio receptor. O som possui a magia de transformar um ambiente, isto é, o som recria um ambiente longínquo. Exemplos: um torcedor vibra ao ouvir a narração do gol, uma adolescente flutua mentalmente ao ouvir uma melodia romântica, o cidadão fica consternado ao ouvir a notícia do assassinato do prefeito. Alguns ambientes consagraram uma sonorização típica e se diz: música de igreja, música de quermesse, música de restaurante, música de carnaval, ou simplesmente, música ambiente. A atmosfera de um estúdio de rádio se transfere no espaço e no tempo para qualquer outro local, instantaneamente ou em qualquer outro tempo. A radionovela tem por princípio a recriação de um ambiente longínquo. Mas, esse longínquo, é tanto mais real quanto mais próximo da realidade do ouvinte.
4.2 - O limite entre ficção e realidade - A linguagem radionovela permite a quase fusão entre a ficção e a realidade. Aquela permite fingir; simular, fantasiar e criar coisas imaginárias; esta, existe efetivamente. A realidade existe-em-si, independentemente de outrem; o conteúdo da ficção não existe-em-si, mas prescinde um cérebro pensante. É clássica a citação de Orson Welles, que em 1938, colocou em pânico a cidade de Nova York ao transmitir um capítulo de radionovela que descrevia a invasão dos marcianos:
Os marcianos estão invadindo a Terra! Acabam de aterrissar nas ruas principais de Nova York e estão destruindo tudo o que encontram. A população está em pânico, não sabe onde se refugiar. Todos procuram desesperadamente um local para se abrigar, antes que sejam destruídos pelos invasores...
Essa notícia se espalhou como um furacão e enlouqueceu o país. Muita gente acreditou que a invasão era verdadeira, tão envolvente foi a narrativa de Welles ao apresentar o programa como um radiojornal; muitos saíram para as ruas, apavorados, sem saber para onde ir. Os próprios policiais tinham dúvidas a respeito da notícia. No final do capítulo, o suspiro: Ainda não foi dessa vez! Era uma ficção!
4.3 - O imaginativo sonoro - O autor de texto para rádio preocupa-se com imagens criadas apenas pelo som. Se ele quiser realismo e emoção, deve criá-los com as palavras que usar e escolher locações que tenham um clima evocativo. Por exemplo, na narrativa da paixão de Jesus Cristo:
...a violência e a raiva da multidão que exigia a execução aumentava progressivamente, os gritos cada vez mais veementes. Então ouvimos os soldados romanos, o martelar dos pregos e a agonia da crucificação. O clamor humano dá lugar a uma sensação mais profunda e melancólica de tragédia e condenação. Cristo pronuncia suas últimas palavras, depois vem um estrondo de trovão até atingir um clímax de música dissonante que vai aos poucos diminuindo de intensidade, se acalmando, para no final chegar ao silêncio. Pausa. Em seguida, lentamente, ouve-se um pássaro cantando. Como teria sido errado estragar esse contraste utilizando um narrador.
4.4 - As falhas - Início da década de 1950, Rádio Record de São Paulo PRB-9, tida como "A Maior" da cidade. O cinema brasileiro estava numa fase áurea. Tiveram a idéia de unir o cinema com o rádio num programa de rádio chamado A grande Filmagem, com o propósito de apresentar os grandes temas cinematográficos em linguagem radiofônica, bem ao sabor popular. O programa seria apresentado ao vivo, diretamente do auditório da emissora, aos domingos, às nove e meia da noite. Para executar o plano, foram contratados os melhores nomes do rádio brasileiro na época. Com todo o aparato para uma produção desse porte, envolvendo produtores, maestros, orquestras, contra-regras, operadores, locutores, animadores, diretores de palco, A Grande Filmagem transformou-se no mais retumbante fracasso. Pela ausência total de inflexão e impostação vocal, foi um verdadeiro desastre. Falhas (ruídos) pode haver nas produções, e até todo um evento pode fracassar. O melhor profissional pode errar. A arte na produção da radionovela está na busca da perfeição auditiva.
Considerações - Recriar um ambiente longínquo, equilibrar-se no limiar entre a ficção e a realidade através de um imaginativo sonoro, é um feito glorioso para não muitos produtores. É como um mestre da escultura mirar um bloco de granito e dele extrair com o cinzel uma estátua ímpar. São muitos os detalhes que compõem o mosaico da radionovela e nenhum deles pode transformar-se em ruído. Cada recurso sonoro - natural, mecânico ou digital - tem que estar a serviço do argumento, aguçando a expectativa. A maior punição para um radionovelista seria a constatação de que o radiouvinte desligou o aparelho de rádio ou mudou de estação durante a exibição do episódio. Talento do artista e esmero profissional são inseparáveis.
5 - Redação de Roteiro de Radionovela
A redação de um roteiro de radionovela passa por várias fases, executadas não necessariamente pela mesma pessoa. Roteiro é o texto estruturado em seqüências e com indicações técnicas destinadas a orientar a direção e a produção da obra.
5.1 - A pré-produção - Na Grécia antiga, se dizia que as musas do Olimpo inspiravam os artistas. O talento de um artista é inerente à sua personalidade, mas a forma de expressar a arte pode ser desenvolvida e aperfeiçoada. Na pré-produção de uma radionovela, o autor esboça uma história que contém uma mensagem, isto é, um conteúdo. Aos poucos, esse conteúdo vai recebendo a forma, através de um canal, uma linguagem, um veículo. Na fase da pré-produção, o autor apenas redige ou desenha uma idéia, um drama, um episódio... sem pensar em comercialização de um CD, público-alvo, viabilidade técnica, gravação, script, elenco. Um autor não precisa ser necessariamente um produtor de radionovela.
A radionovela trata de conflitos e soluções, relacionamentos e sentimentos, extraídos da realidade. O objetivo do texto dramático é ter as idéias originais recriadas na mente do ouvinte. O enredo tem de ser verossímil; os personagens, também. O final deve apresentar alguma lógica, por mais incomum e original que seja, para que o ouvinte não se sinta enganado e nem fique decepcionado. Na arte milenar de contar histórias, se diz o suficiente para que o ouvinte siga um enredo e que ele sempre se indague o que acontecerá depois. A radionovela trabalha com vários núcleos da trama, criando expectativas, reações e estimulando o ouvinte a participar da história.
5.2 - O argumento - Argumento é raciocínio, indício ou prova pelo qual se tira uma conseqüência ou dedução. Leitmotiv é a repetição, no decurso de uma obra literária, de determinado tema, a qual envolve uma significação especial; é tema ou idéia sobre a qual se insiste com freqüência. Às vezes, se usa apenas o vocábulo francês Le Mot, a palavra, o resumo. Um filme vale pelo seu argumento. A radionovela prima pela simplicidade da produção, pois uma produção sofisticada pode perder de vista o argumento. O personagem não pode ser emocionalmente muito complexo para ser entendido. O radiouvinte entra em contato com a idéia do autor, se identifica com o personagem e interage em sua criatividade mental. Com um bom argumento na mente, o autor de radionovela parte para as fases seguintes: a história, o cenário e os personagens.
5.3 - O roteiro - A maneira mais simples de contar uma história é: 1) Explicar uma situação; 2) Introduzir um "conflito"; 3) Desenvolver a ação; 4) Resolver o conflito. A essência de uma boa história é querer descobrir o que acontece no final. Para favorecer a criatividade mental do ouvinte, não precisa dar o desfecho final de todos os aspectos da trama. No rádio, as cenas podem ser curtas e a passagem de uma situação para outra é uma simples questão de manter o ouvinte informado sobre onde ele está a cada momento.
Técnicas para manter a atenção do ouvinte: 1) Mudança de ritmo: ação rápida/lenta, locações barulhentas/silenciosas, cenas longas/curtas; 2) Mudança de humor: clima tenso/tranqüilo, colérico/feliz, trágico/moderado; 3) mudança de lugar: local fechado/ao ar livre, cheio de gente/ermo, luxuoso/pobre. O autor de texto para rádio preocupa-se com imagens criadas apenas pelo som. Se ele quiser realismo e emoção, deve criá-los com as palavras que usar e escolher locações que tenham um clima evocativo.
A evolução de uma trama pode passar pelas seguintes fases: 1) Introdução, cenário e contexto, caracterização; 2) Conflito, eventos resultantes de personagens da situação; falso clímax; 3) ação emergente, complicação, suspense; 4) Tensão máxima, crise, clímax; 5) declínio da ação, resolução dos subenredos; 6) Desfecho, reviravolta. Um exemplo elucidativo dessas fases é a narração da paixão de Jesus Cristo, nos evangelhos.
5.4 - O script - Script é o texto dos diálogos e das indicações cênicas de um filme ou de peça teatral, novela de rádio ou televisão; consiste numa seqüência de instruções escritas, numa linguagem própria, para o emprego em encenações ou gravações. O script de radionovela traz os diálogos a serem pronunciados pelos personagens e as indicações técnicas de toda a produção de áudio. Quando já há um argumento e um roteiro definidos, é o momento de fazer o script, redigindo o máximo de detalhes para a produção da peça radiofônica. O script faz a ponte entre a mente pensante de um autor e o elenco. Quanto à técnica de redigir o script, basta repartir a lauda em duas colunas paralelas. Normalmente, na coluna esquerda se redigem os diálogos; e na coluna direita, se escrevem as indicações técnicas para os personagens e os respectivos diálogos, tipo de microfone, qual música, efeitos sonoros... As laudas devem ser numeradas e impressas num lado apenas a fim de não gerar ruídos no manuseio, num tamanho de letra bem legível.
5.5 - O cenário - A cena pode se passar tanto numa cachoeira como num castelo ou num prédio moderno, cena que, aliás, sempre será realizada nos estúdios. O ator principal pode ser muito elogiado por ter ido ao grande baile com uma casaca elegantíssima, sem estar vestindo uma roupa especial, pois ninguém está vendo nada, só ouvindo os elogios que lhe são dirigidos. Por outro lado, a radionovela tem suas limitações; não existe cenário para localizar os personagens, qualquer movimentação tem que ser descrita. Isso justifica o fato dos personagens não se deslocarem muito, evitando confusão para os ouvintes. Uma comédia de costumes em geral começa com um cenário que depois se torna animado com os personagens. A descrição da trama vem mais tarde, conduzida pelas circunstâncias, usualmente uma série de apuros em que os personagens estão envolvidos. É importante fazer uma boa pesquisa de época e lugar para manter a credibilidade perante aqueles ouvintes que conhecem a situação específica da história. Na radionovela, o cenário poderá variar consideravelmente. Mudanças de lugar são bastante eficientes quando acompanhadas de alterações de estado emocional.
5.6 - A caracterização - Em cinema, teatro e televisão, a caracterização é a arte e técnica que, por meio de recursos materiais (maquilagem, máscaras, indumentária etc.), conferem ao ator características físicas que completarão o personagem que ele vai representar. Bart Gavigan, consultor britânico na área de caracterização, resume a questão a três perguntas: 1) Quem é o herói? 2) O que ele quer? 3) Por que eu deveria me importar com ele? Os personagens principais têm que estabelecer uma ligação com o ouvinte; precisam ser verossímeis, com os quais o ouvinte possa se identificar e cuja causa possa abraçar. Cada personagem poderá transparecer características como: imperfeito, corajoso, argumentador, ambicioso, medroso, solidário, preguiçoso e outros.
A caracterização é um ingrediente fundamental; por isso, de cada personagem é necessário conhecer: 1) Idade, sexo, onde vive, como fala; 2) estatura, peso, cor e aparência geral; 3) valores sociais, senso de status, crenças; 4) o carro que dirige, as roupas que usa, quanto dinheiro tem; 5) as ligações de família, amigos e inimigos; 6) as piadas que conta, se é confiável ou perspicaz; 6) humor, preferências e aversões. Os autores e produtores devem fornecer o máximo de informações para o ator para que ele tenha condições de desempenhar bem seu papel, constituindo um personagem convincente. A telenovela apresenta muitos estereótipos, onde os personagens repetem gestos amaneirados, posições estranhas, falas originais (Exemplo: "É brinquedo, não!" - Dona Jura, em O Clone, 2001). A radionovela também criou seus estereótipos.
5.7 - As falas - "Cuidado, ele está armado". Falas como essa, desnecessárias em filmes ou no teatro, são essenciais no rádio como um meio de transmitir uma informação. Como ninguém vê as expressões dos atores, todas as emoções de um personagem precisam ser transmitidas através de sua fala, isto é, com palavras certas e fortes, que consigam transmitir o que a história pretende. Os personagens no rádio não só dizem o que estão fazendo, mas também revelam seus pensamentos íntimos pensando em voz alta, ou proferindo frases como quem escreve uma carta. A radionovela é tanto mais bem produzida quanto mais dispensa a presença do narrador. O uso dos nomes dos personagens é indispensável nas falas, especialmente no começo da cena. Por vezes, um breve silêncio também é importante.
5.8 - Os atores - O ator é aquele que representa em peças teatrais, filmes e outros espetáculos; o comediante, o intérprete, o artista, o astro. Ele deixa de ser uma pessoa real para se transformar num personagem. Formar um elenco para uma peça radiofônica quase sempre acaba sendo um meio-termo entre quem serve para o papel e quem está disponível. Sempre foi explorada a figura do ator voluntário, não-profissional, servindo de quebra-galho. O produtor sempre deseja ter os melhores atores, mas isso nem sempre é possível dentro dos limites orçamentários. Pode ocorrer também, que dois excelentes atores tenham a voz muito parecida e um dos dois tenha que ser substituído, de acordo com o que a peça exige. No passado, alguns atores talentosos abandonaram a profissão porque a remuneração era muito pequena, uma vez que o dono da radioemissora embolsava a quase totalidade do patrocínio.
5.9 - O narrador - O narrador é aquele que narra ou conta uma história. Em cinema e televisão, é o locutor que lê a narração. No teatro, é o personagem que exerce a função de intermediário ou mediador entre a ação da peça e o público, informando este das peripécias e intrigas. Na radionovela, a voz do narrador aparece quando é absolutamente indispensável para passar uma informação ao ouvinte, especialmente nas mudanças de cena. O narrador é particularmente útil para explicar uma grande quantidade de informações básicas que poderiam ser tediosas na forma de diálogo, ou quando se fazem grandes reduções, por exemplo, na adaptação de um livro para o formato de novela radiofônica. Nessas circunstâncias, o narrador pode ser usado para ajudar a preservar o estilo e o sabor do original, especialmente nas partes em que há muita explicação e descrição, mas pouca ação.
5.10 - Os efeitos sonoros - Na radionovela, há dois tipos de efeitos sonoros: os naturais e os artificiais. Os efeitos naturais são sons da natureza; os artificiais são os produzidos física ou eletronicamente. No palco de um teatro, a platéia vê o cenário; na radionovela, o cenário imaginário é construído pelos efeitos sonoros. Há sons que servem como som-de-fundo (back ground) e há sons que tem que aparecer realçados, por exemplo, o trimmm de um telefone. Os sons têm que ser muito bem situados para evitar anacronismos e incongruências; por exemplo, é inadmissível colocar o som de maria-fumaça num trem elétrico, ou colocar o som de pulse num telefone celular. Alguns sons foram consagrados pelo seu uso, trazendo significados óbvios; por exemplo: tique-taque do relógio - passagem do tempo; coruja piando - noite; galo cantando - amanhecer do dia; pássaros cantando - ao ar livre; gaivotas e barulho do mar - litoral; pulsar de um coração - emoção...
Como formar um arquivo de sons? Sons da natureza, basta coletá-los com um aparelho gravador. Sons mecânicos, também é fácil gravá-los no seu próprio ambiente físico. Sons digitais podem ser produzidos pelos aparelhos eletrônicos: teclados, guitarras, softwares específicos do computador. Nas ferramentas de busca da internet, já é possível localizar arquivos contendo centenas de sons, digitando . Sons imitadores podem ser produzidos em estúdio, utilizando objetos, por exemplo: tropel de cavalos - casca de coco; fogo - papel celofane; abrindo champanhe - fazer um 'pop' com o dedo na boca. Alguns sons devem ser produzidos ao vivo pelos próprios atores vocais para facilitar a sincronia com os demais sons. Nos estúdios de rádio das décadas de 40-60 havia a figura do contra-regra, cuja função era produzir efeitos sonoros complementares, utilizando-se de objetos e ferramentas. No Brasil, na Rádio Nacional do Rio de Janeiro, Edmo do Valle notabilizou-se como um contra-regra mui talentoso, criando efeitos sonoros incríveis.
O departamento de efeitos sonoros da Rádio Nacional começou a funcionar em 1941. Ele foi criado por Victor Costa, diretor artístico da emissora. O acervo do departamento contava com cerca de 4.720 discos contendo músicas e ruídos. Eles eram usados para simular os estados emocionais dos personagens das novelas. A sonoplastia da Rádio Nacional possuía uma qualidade técnica invejável. Ela conseguia reproduzir todos os detalhes do ambiente das novelas. Na casa de um personagem, por exemplo, era possível ouvir o barulho do portão, do cascalho do jardim e do tanque de lavar roupa. Os recursos sonoros serviam também para aumentar a concentração dos atores e imprimir maior realismo às cenas gravadas.
A simplicidade dos efeitos sonoros era a regra na sonoplastia da Rádio Nacional. O barulho da caixa de fósforo virava uma máquina de costura. A descarga da privada dava a impressão de um submarino com vazamento em pleno fundo do mar. Um comprimido se dissolvendo num copo d'água era uma pessoa sendo atacada por formigas. No comando da sonoplastia estava o operador de som. Ele tinha que recriar os cenários das tramas usando os recursos sonoros. Os equipamentos técnicos da Rádio Nacional eram os melhores do país, o que influenciava na qualidade dos programas veiculados. A emissora carioca possuía em seu departamento de sonoplastia campainhas de vários sons, torneiras com água corrente, aparelhos que simulavam tiros de revólver, entre outros.
O auge da utilização de efeitos sonoros nas novelas foi na década de 40. O som era o elemento responsável por manter o ouvinte atento durante a transmissão dos programas. Desse modo, os barulhos de portas abrindo e fechando, tiros de armas de fogo e gritos estridentes criavam o clima necessário para a concentração do público durante a irradiação de um capítulo. Celso Guimarães, ator de novelas da Rádio Nacional, trouxe de sua viagem aos Estados Unidos um filtro e uma câmara de eco. Esses aparelhos eram considerados os mais modernos em sonoplastia radiofônica. O filtro e a câmara de eco deram um novo passo na sonorização das novelas.
5.11 - O Fundo Musical - A música pode enriquecer bastante uma peça radiofônica pela emoção que ela provoca; porém, se a escolha não for adequada, torna-se apenas uma distração irritante. A música, de acordo com o seu ritmo, vai criando o clima, isto é, o cenário dos acontecimentos. De preferência, a música deve ser composta especialmente para a peça. Ela deve ser usada na abertura, em algumas passagens de cena e no encerramento da radionovela, funcionando como um 'leitmotiv'. Além dessa função, pode haver outras músicas no episódio para criar ou realçar o clima da cena. A música pode ser orquestrada, funcionando como fundo musical, o back ground; nesse caso, se a música não for especialmente composta, procurar a música mais desconhecida possível. A música também pode ser cantada, quando as palavras, tal qual numa ópera vão narrando a cena. Um personagem pode cantarolar algum refrão para reforçar seu estereótipo. O editor musical também precisa estar atento aos direitos autorais da música; às vezes, é necessário ter licença por escrito, mediante paga, para utilizar uma música.
5.12 - O estúdio - aqui se entende o estúdio como o local próprio para a realização de filmagens cinematográficas, gravações para rádio e televisão, e gravações sonoras em geral. O estúdio tem que ter o isolamento acústico para evitar sons indesejáveis e precisa ter o tratamento acústico para evitar o eco; isso se consegue com paredes duplas e revestimento de espuma apropriada. O estúdio moderno possui pouco equipamento: um mixador de áudio, ao qual se acoplam os microfones, o CD Player, o MD Player, o telefone; o mixador, por sua vez, fica plugado ao computador que grava o sinal no HD. Podem ser acoplados serialmente vários HDs de 80 gigabites. O estúdio precisa ter a devida climatização do ambiente. Normalmente, o estúdio se divide em duas salas, separadas por paredes de vidro, sendo que o operador de áudio fica numa sala e os locutores na outra sala. De nada adiantaria ter um ótimo enredo e um ótimo script, se a peça radiofônica for gravada sem qualidade técnica; a qualidade depende da edição, do fading e do controle dos volumes. Ainda que um produtor não domine toda a técnica de operar os comandos do áudio, ele precisa ter as noções fundamentais.
5.13 - Os ensaios - Script, estúdio, elenco em ordem, a hora do ensaio. O ensaio compreende o treinamento das falas e marcações dos atores para adestrá-los e aprimorá-los no desenvolvimento dos seus papéis, objetivando a unidade, o aprimoramento e a perfeita execução da montagem. No ensaio, o produtor passa aos atores vocais os detalhes da entonação da voz e da dicção e o ritmo da narrativa. A qualidade final da gravação depende dos ensaios; alguns erros podem ser corrigidos depois da gravação, mas no geral, os erros têm que ser corrigidos e prevenidos antes da gravação. Antes da gravação oficial, pode-se fazer uma gravação preliminar, que ouvida, dá oportunidade para os próprios atores se corrigirem; e essa gravação pode ser ouvida e criticada por um grupo de futuros radiouvintes.
5.14 - O plano de gravação - Depois do ensaio, a gravação. É função do produtor determinar a data e o local da gravação, tendo reservado o estúdio e avisado a todo o elenco. O operador de áudio prepara e testa os equipamentos. Se forem necessários alguns objetos para a produção de efeitos sonoros, tudo deve ser levado ao estúdio. Antes do início da gravação, é muito importante um exercício de descontração, aquecimento da voz e ambientação. Os atores vocais cuidam de sua voz evitando bebidas geladas na véspera; na hora a gravação, um chá quente e pastilhas ajudam a aquecer a cordas vocais. E quando se acende o led vermelho, a gravação começa pra valer.
5.15 - Os contratos do uso da voz - De acordo com a legislação brasileira, toda vez que um ator vocal se dispõe a prestar serviços, é necessário firmar um "Contrato de Cessão Temporária de Direitos para Utilização de Imagem e Voz para Fins de Veiculação na Mídia Eletrônica" entre o ator e o veículo de comunicação, mediante remuneração. O contrato vale por seis anos; após esse prazo, não se pode veicular mais a respectiva gravação.
5.16 - Os direitos autorais - O Escritório Central de Arrecadação e Distribuição (ECAD) é uma sociedade civil privada instituída pela Lei Federal nº 5.988/73 e mantida pelas associações de titulares de obras musicais que o integram, nos moldes do art. 99, da atual Lei nº 9.610/98. É um escritório organizado pelas associações de autores para arrecadar e distribuir direitos autorais decorrentes da utilização pública de obras musicais e/ou lítero-musicais e de fonogramas. Direito autoral é o conjunto de normas jurídicas que visa regular as relações oriundas da criação e da utilização de obras artísticas, literárias ou científicas, tais como textos, livros, pinturas, esculturas, músicas, ilustrações, projetos de arquitetura, gravuras, fotografias etc. De todo o montante arrecadado pelo ECAD, 18,75% são retidos para a cobertura de suas despesas operacionais, sendo o restante repassado às associações que o integram e às quais são filiados os titulares. Para registrar uma radionovela, é necessário se dirigir ao EDA - Escritório de Direito Autoral, órgão da Fundação Biblioteca Nacional, responsável pelo registro de obras intelectuais.
5.17 - A edição final - Feitas as gravações de um episódio de radionovela, parte-se para a edição final. De posse do script, é necessário eliminar as gravações não aproveitáveis e colocar a seqüência na ordem correta, sabendo que a gravação nem sempre obedeceu a ordem seqüencial. Aí se faz o ajuste da mixagem do som, dos volumes e dos timbres. Na edição final, se produz a seqüencialidade dos diálogos, dos efeitos sonoros e do fundo musical; sons, que ora são intercalados, ora são sobrepostos. Na edição digital, tudo se faz ao clique do mouse.
5.18 - A copiagem de CDs - As tecnologias de gravação de sons estão se aprimorando cada vez mais: gravação em arame, fita de rolo, cassete, dat, cartucheira, disco de vinil, MD, CD... as tecnologias mais recentes convivem, as mais antigas caíram no desuso. A tendência de hoje é gravar tudo no HD (Hard Disc) do computador no formato MP3; para o transporte e a reprodução, aí se grava o CD (Compact Disc). O CD possui várias vantagens: reprodução high fidelity em stereo, fácil localização das faixas, precisão para localizar um determinado ponto da gravação com o fast forward e fast backward, leitura visual do tempo decorrido e tempo restante, tempo longo de gravação de até 90 minutos, fácil manuseio e armazenagem, tecnologia barata...
5.19 - A colocação no mercado - Produto finalizado, é hora de colocá-lo no mercado. Normalmente, a radionovela é produzida com um destinatário pré-definido, portanto com um patrocinador pré-existente. Na prática, mensagens educacionais e religiosas buscam patrocinadores. Para citar um exemplo: em 1998, o Instituto de Saúde e Desenvolvimento Social, com sede em Fortaleza (CE), desenvolveu o Projeto "Radialistas contra a Aids", tendo produzido dois CDs, com o financiamento do Ministério da Saúde, da Secretaria da Saúde do Estado do Ceará, e de algumas fundações e empresas. Com a intenção de serem produções bem populares, foram utilizados nos CDs vários estilos musicais - pop, rap, cantoria e paródia; no CD volume 1, foram inseridos seis episódios no formato radionovela.
5.20 - O feed back - O processo de uma comunicação eficaz gera um feed back, ou seja, a reação com a realimentação. No binômio audiência/fatura, a radioemissora tende a veicular produções de boa qualidade. Com a radionovela, acontece o mesmo; quando o radiouvinte interage positivamente, o diretor de programação se vê condicionado a programar o episódio seguinte. Quando autor, produtor e programador consideram a opinião do público-alvo, o nível da produção sobe. Isto demanda muita pesquisa de opinião. Robert McLeish apresenta oito critérios para avaliar um programa radiofônico: pertinência, criatividade, precisão, eminência, holística, avanço técnico, enriquecimento pessoal e ligação pessoal.
Considerações - Em cinema, se diz: "idéias na cabeça, câmara na mão." No rádio, idéias na cabeça, microfone na mão. Na radionovela, o autor tem uma intenção, isto é, tem uma mensagem a transmitir, um argumento. Depois da minuciosa produção e da veiculação da radionovela, o autor aguarda a repercussão da sua obra. Script, cenário, atores vocais, efeitos sonoros e mercado de consumo têm que proporcionar o feed back para massagear o ego do autor e estimulá-lo a criar novos episódios, com experiência cada vez maior. O talento é decisivo. Na radionovela, é necessário somar o talento de vários profissionais: autor, roteirista, ator vocal, sonoplasta, produtor, contra-regra, técnico eletrônico, programador, marketeiro e outros mais. E sobretudo, sincronizar o argumento com os anseios do público-alvo.
6 - O Estúdio de Gravação da Radionovela
A radionovela, necessariamente, se apóia na eletrônica, pois o áudio dela tem que ser gravado e reproduzido. Eis a descrição de um estúdio de rádio, com seus equipamentos eletrônicos indispensáveis, que precisam ser manejados por operadores iniciados no assunto:
6.1 - Layout do estúdio - O estúdio para transmissão ou gravação de áudio consiste numa sala que possua isolamento e tratamento acústico, onde estarão os microfones; os aparelhos de mixagem do áudio que o operador técnico vai manipular podem ficar na mesma sala ou em outra, separada por vidro transparente. Para evitar microfonia, os locutores podem usar fones de ouvido.
6.2 - A mesa de som - Num estúdio, todo o controle do áudio passa pela mesa de mixagem, o mixer, na qual há vários canais, com entradas (input) e saídas (output) de áudio. Em cada canal é acoplado um microfone ou um aparelho gerador de som; cada canal possui controle individual de volume, tonalidade e equalização. Um estúdio contém três tipos de circuitos: circuitos de programa, circuitos de monitoração e circuitos de controle. O operador de áudio é quem controla todas as fontes de áudio - CD Player, computador, MD, Dat, telefone, linha externa, microfones - e faz a mixagem final, com diversos tipos de efeitos.
6.3 - Os computadores - Na atualidade (ano 2004), toda a produção de áudio para o rádio é feita diretamente no microcomputador. O hardware requerido, ou equivalente, é: Processador Pentium com velocidade mínima de 1 Gigahertz; Hard Disc de no mínimo 40 Gigabites; memória RAM mínima de 512 Megabites; Placa de áudio - Sound Blaster da Creative, Delta, Digi-001, Interface do Pro-Toos Digidesign; Softwares recomendados: Cool Edit Pro, Sound Forge-Vegas Áudio, Clak Walk (Pro Formato Midi), Audigi Logic, Pro Tools.
6.4 - Princípios de edição - Fazer a edição de um áudio já gravado significa: rearranjar o material numa seqüência mais lógica, retirar aquilo que é inaceitável, compactar o material e produzir novos arranjos de locução, música, som e silêncio. Hoje (ano 2004) toda a edição tende a ser digital (por computador) e não mais a linear (fita de um quarto de polegada, MD, Dat). Uma vantagem da edição por computador é deixar a gravação original intacta; pode-se fazer várias tentativas da mesma edição até se obter o resultado desejado, sem destruir a gravação original. Na edição digital, os comandos mais utilizados são: selecionar o áudio e deletar; ou, recortar e colar em outro ponto.
6.5 - Os microfones - O microfone converte a energia acústica em energia elétrica. Um produtor de áudio precisa conhecer as vantagens e desvantagens dos vários tipos de microfone: direcional, multidirecional, cardióide, hipercadióide, mono, estéreo, estéreo binaural... fixo, sem fio, de lapela, de orelha... Da qualidade do microfone, dependerá em grande parte, a qualidade da gravação. O produtor precisa saber escolher o microfone adequado e sua viabilidade técnica.
6.6 - Os suportes da gravação - A gravação mais antiga de sons foi feita por Valdemar Poulsen (1869-1942, Dinamarca) numa espécie de arame ou fita de cobre. Depois, com Thomas Edison (1847-1931), surgiu o fonógrafo. Vieram outros inventos: a vitrola, com discos de pedra calcária, a 78 RPM; o magnetofone, gravador com fita de papel revestida com aço em pó; gravador (AEG Telefunken) com Fita de Rolo (BASF), feita de poliéster revestido de óxido de ferro, na Alemanha; toca-discos, com discos de vinil, a 33 RPM; gravador de rolo doméstico; cassete de áudio (Philips, Holanda); DAT (Digital Audio Tape, Japão); HD (Hard Disc); CD (Compact Disc); MD (Mini Disc)... A tendência da atualidade é a de disponibilizar todas as gravações no formato MP3 em sites da internet. Exemplo: www.pr2online.com.br/soumavez/index.htm.
6.7 - Os técnicos - Na utilização dos aparelhos eletrônicos, nada acontece sem a mão de obra humana, comandada pelo cérebro. Há aquele que inventa o aparelho, aquele que o utiliza e aquele que faz a manutenção. Para o operador de aparelhos eletrônicos, o importante é conhecer todos os comandos e as potencialidades do aparelho. O operador de áudio de um estúdio é chamado de 'Técnico'. Assim, as produções podem receber a qualidade requerida pelo ISO (International Standardization Organization) 9000.
Considerações - A cibernética é a ciência que estuda as comunicações e o sistema de controle nos organismos vivos e nas máquinas. Num estúdio de gravação de radionovela a sincronia entre homens e a parafernália eletrônica tem que ter precisão milimétrica. Aos profissionais da eletrônica cabe construir o estúdio: microfones, mesa de som, computadores, gravadores, isolamento acústico... Cabe ao técnico de áudio operar as máquinas maravilhosas, colhendo o melhor áudio e incluindo-o na edição final. Os recursos sonoros são ilimitados, mas todos eles têm que estar alinhados em vista dos objetivos do produto final. A glória de um produtor é receber inesperadamente um prêmio oferecido por uma entidade que tem autoridade para avaliar uma produção artística; só o elogio da genitora não basta.
7 - O Público-alvo da Radionovela

No processo da comunicação, é fundamental saber: quem fala, o quê fala, para quem fala, como fala. Quando o emissor conhece o receptor, ele poderá escolher a linguagem mais adequada em vista do público-alvo. A radionovela, pelo seu conteúdo e linguagem, normalmente tem um público-alvo bem definido, tanto pela faixa etária, como pela condição social, geográfica, cultural ou ideológica.
7.1 - As crianças - Cantigas de ninar e histórias infantis sempre foram utilizadas para entreter crianças. Por isso, surgiram livros infantis, músicas infantis, filmes infantis... e radionovelas infantis. Para a criança, a fantasia é um campo muito fértil; até os cinco anos de idade, ela nunca mente, apenas fantasia. Ela gosta de ouvir a mesma história narrada repetidas vezes.
7.2 - Os jovens - O adolescente e o jovem vivem a fase do herói, isto é, eles se identificam com o herói virtual. Tal qual o público infantil, o público juvenil sempre foi o público-alvo de muita produção midiática e artística. O jovem vive o sonho, o encanto, o romantismo, o plano do futuro; por isso, a ficção lhe satisfaz o ego.
7.3 - Os adultos - A maior parte das radionovelas foi produzida tendo como público-alvo a dona-de-casa, isto é, uma mulher adulta que se ocupava com os afazeres domésticos. Para ocupar a mente durante as tarefas rotineiras, a radionovela lhe era uma fiel companheira.
7.4 - Os idosos - Quando se fala de radionovela, a cena que vem à mente é uma vovó fazendo tricô e ouvindo o episódio predileto no rádio. Os idosos têm mais tempo para ouvir rádio. Alguns idosos, com dificuldade na leitura, encontravam na radionovela um passatempo ideal.
7.5 - Os grupos sociais - Os deficientes visuais são exemplo de um segmento social para os quais se produz mídias específicas. Para o cego, a televisão funciona como o rádio, já que ele não enxerga. Por exemplo, a Milícia da Imaculada, mantenedora da Rede Milícia Sat de Rádio, de Santo André (SP), grava e distribuiu mensalmente cassetes para os cegos contendo as principais reportagens e matérias da revista O Mílite.
7.6 - Os grupos religiosos - Com a finalidade de expandir fronteiras, as religiões sempre se preocuparam em angariar fiéis com as mais diversas mídias. Por exemplo, a Associação Palavra Viva, sediada em São Paulo (SP), já produziu mais de 600 episódios com mensagens cristãs no formato radionovela; também, gravou em estilo de dramatização os Evangelhos e o livro Atos dos Apóstolos da Bíblia Sagrada. A voz de locutores renomados, como de Cid Moreira e Agnaldo Rayol, já foi utilizada para gravar os textos da Bíblia. O Rosário meditado, isto é, aquele em que a cada Ave-Maria se recita um versículo bíblico ou um pensamento religioso, o que tem um sabor de radionovela, é muito ouvido na Rede Milícia Sat, em cuja programação o Terço é recitado quatro vezes ao dia.
7.7 - As regiões geográficas - A produção da radionovela tem que estar inculturada na sua região geográfica, incorporando o inconsciente coletivo local. Um mesmo tema tem que ser abordado de forma diferente, por exemplo, entre os gaúchos urbanos do Rio Grande do Sul e os sertanejos do agreste da Paraíba. A produção da radionovela tem que incorporar a cultura local, bem como o sotaque característico da região, ainda que se possa trabalhar com estereótipos universais.
7.8 - As campanhas institucionais - O Instituto de Saúde e Desenvolvimento Social, com sede em Fortaleza (CE), que desenvolveu o Projeto Radialistas contra a Aids, produziu em 1998 dois CDs, com seis episódios de radionovela; esse fato pode ser citado como um exemplo da utilização da radionovela em campanhas institucionais nos assuntos de saúde, educação e outros. A linguagem radionovela não precisa necessariamente ter capítulos longos e nem edição diária; um episódio fictício pode ser narrado em poucos segundos. O marketing sempre se serviu de curtas ficções para divulgar produtos, serviços, causas e idéias.
Considerações - Os comunicadores têm que aprender uma lição com os cozinheiros: para agradar, o segredo está em saber para quem se está a cozinhar. Igualmente, o segredo está em saber para quem se está a comunicar, isto é, saber qual o público-alvo. O melhor cozinheiro é aquele que conhece as preferências gastronômicas do seu cliente. O produtor de radionovela precisa diferenciar seu público-alvo, tanto pela idade, como pela condição social e pelo nível de reflexão. Se ele se colocar no lugar social do radiouvinte, ele será compreendido e o linguajar dele será elogiado. E aqui entra outro fator: a criatividade pessoal. O kitsch tem que ser superado com um toque talentoso. O artista, normalmente, faz o mesmo que os outros fazem, mas ele faz com um estilo que é notado.


8 - O presente e o futuro da Radionovela
O rádio moderno, como toda a mídia moderna, caracteriza-se pela iconização - ícones sonoros; pela paratatização - parataxe é a justaposição; e pela hibridização - mistura das mídias. O formato radionovela atende a esses postulados. Por analogia, pode-se dizer que a informática é toda iconizada por sons; basta considerar o ícones sonoros do ambiente windows. No presente (ano 2004), há radionovelas em:
8.1 - Inglaterra: A radionovela há mais tempo no ar, chama-se Vida Rural. Produzida pela BBC de Londres, começou a ser transmitida em 2 de janeiro de 1951 para informar fazendeiros sobre novas técnicas de agricultura. Atualmente são abordados temas ligados à vida no campo, como o cultivo de alimentos geneticamente modificados e a doença da vaca louca. "Estou feliz em poder desejar feliz meio século à novela; não é só por causa do cargo que sou um ouvinte assíduo", diz NickBrown, ministro britânico da Agricultura.
8.2 - Afeganistão: Três manhãs por semana o Afeganistão pára por 15 minutos. É a hora em que sete em cada dez afegãos pegam seu radinho de pilha e colam ao ouvido para acompanhar mais um episódio de Naway Kor, Naway Jwand, ou Casa Nova, Vida Nova, a novela radiofônica da estatal britânica BBC, o maior sucesso de audiência de todos os tempos no país. A cada episódio são 37 milhões de ouvintes, incluindo algumas cidades no Paquistão, que tentam esquecer a fome e a guerra e mergulham na vida de Bar Killi, um vilarejo rural fictício onde se passa a trama. O programa tem tanta força que conseguiu escapar da censura que o Talibã impõe ao país desde 1996, quando baniu a televisão, música, teatro e dança. Não foi, no entanto, uma concessão amistosa. É que não havia outra solução para o regime linha-dura, já que até seus rudes soldados levam rádios de válvula junto às velhas e empoeiradas kalishnikovs para acompanhar a novela na solidão das montanhas desérticas. "Conhecer Casa Nova, Vida Nova é entender melhor a alma afegã", disse Shirazuddin Siddiqi, um ex-professor de drama da Universidade de Cabul que dirige o programa nos estúdios digitais da BBC em Peshawar, no Paquistão.

8.3 - Brasil
8.3.1 - A Rádio América - A Rádio América, AM 1410 KHZ, de São Paulo (SP), possui (ano 2004) um departamento de produção de radionovelas. De segunda a sexta, às 21:30 h, dentro do programa "Boa Noite Família", apresentado por Hernando Gutiérrez, Luis Miguel Duarte e Pereira Junior, vai ao ar um episódio denominado "Milagres da Fé". O ouvinte envia a sua história para a emissora; a Sra. Alcima de Toledo faz a adaptação da história, produzindo o script. Com direção de Rita de Souza, a história é interpretada por um elenco de alto nível, destacando-se nomes como Arlete Montenegro, Pereira Júnior, Eduardo Cury, Gessy Fonseca, Lilian Loy, Basílio Magno, Raul Gonzalez; a sonoplastia é de Luiz Veronezi. Cada episódio é de 20 minutos, sendo que é veiculado nas 60 emissoras da Rede Paulus Sat. "Milagres da Fé" está no ar desde fevereiro de 2002.
8.3.2 - Rádio Musical - Nas radioemissoras de propriedade das igrejas evangélicas, também há resquícios de radionovela, especialmente nos programas que simulam depoimentos sobre milagres e graças recebidas. É o caso das emissoras da Igreja Universal do Reino de Deus, espalhadas pelo Brasil e pelo exterior. Em São Paulo (SP), o Bispo Gregório de Morais, da Rádio Musical FM, tem utilizado o estilo radionovela em suas pregações eletrônicas.
Lourenço Mika - lmaikol@uol.com.br

Um comentário:

  1. Estudo radio e Tv e sei como é dificil achar materiais de apoio na internet, por isso agradeço pelo texto.

    Me ajudou muito!!

    @MB_Rocks

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