quarta-feira, 19 de junho de 2013

LUTO

Guimarães Rosa já disse: "A gente não morre. Fica encantado." 
Definitivamente, não sei lidar com a morte. Sei que este é o fim de todos, mas alguns seres poderiam ser eternos. 
Tatiana Belinky deveria ser uma dessas pessoas. Foi através de um texto de sua autoria que aprendi amar e a respeitar o teatro infantil. As personagens de seus textos, diferente de muitos lixos que tem por aí, são politicamente incorretas, malcriadas, falam o que pensam e seu universo passa longe daquele didatismo horrendo que encontramos em algumas "peças" ditas infantis. Sem hesitar, liguei para sua residência e falei do meu desejo de conhecê-la pessoalmente. No dia seguinte, estava lá, sentado ao seu lado. 
E durante 15 anos (eu a conheci em 1998), Tatiana me proporcionou tantas coisas boas. Foi por sugestão dela que cursei uma faculdade de Arte-Educação, tive o enorme prazer - quando digo enorme, enorme mesmo - de encenar A Sopa de Pedra, Quem Casa Quer Casa - Ou Não?, Os Dois Turrões, Beijo, Não! e João Magriço, espetáculos que me trouxeram muito aprendizado e durante um ano, trabalhamos diariamente num espaço que batizamos com o seu nome. Infelizmente, devido às péssimas instalações, o espaço fechou as portas. 
Quantas tardes agradáveis passei ao seu lado, ouvindo suas histórias, falava o mínimo possível, só para ouvi-la. Era maravilhoso... e que memória ela tinha.
Lembro-me da última vez em que nos vimos. Parece que ainda sinto o seu abraço e o seu beijo e vejo aquele sorriso generoso. 
- Adorei a sua visita. A-DO-REI! 
Foram estas as últimas palavras que ouvi dela. 
E eu ainda tinha tantas coisas para lhe dizer, mas hoje me faltam palavras. Ainda não caiu a ficha. Não é verdade, não pode ser verdade. Vou chegar aí e te encontrar refestelada em sua poltrona, mexendo em seu caldeirão e trazendo à tona mais histórias. 
 Em breve, terminarei de digitar aquelas milhares de páginas mimeografadas que estão comigo e seus scripts de TV não se perderão pelo efeito do tempo. Estou me sentindo pobre, paupérrimo, pois não terei mais a sua presença física, mas ao mesmo tempo muito rico pelos seus ensinamentos. Nunca deixarei morrer a criança que habita dentro de mim. E isso, Tati, aprendi contigo. E te juro, enquanto eu viver, espalharei suas histórias e o seu nome para os meus alunos e dizer que tive a honra de te conhecer. Conhecer não só a escritora, mas o ser humano Tatiana Belinky. 
Pensei que depois da morte de minha mãe, nunca mais fosse sentir uma dor tão forte. Coincidência ou não, minha mãe também morreu num dia 15 e com o dia nublado. 
Meus sentimentos para toda a família Belinky de Gouveia. Não sei como está esse texto, simplesmente estou escrevendo o que estou sentindo, mas não importa. Muito obrigado por tudo, Tião. 
Aproveito para colocar aqui um quadro que ganhei de você. Você me ofereceu esses aplausos e agora sou eu quem lhe ofereço. Te amo. BRAVO, TATI. BRAVO

Nenhum comentário:

Postar um comentário