terça-feira, 11 de dezembro de 2012

"E ASSIM TERMINOU A HISTÓRIA...


...entrou por uma porta, saiu pela outra. E quem quiser, que conte outra."
ou
"Mas isso é uma outra história, que fica para uma outra vez"
Quem não ouviu esses encerramentos milhares de vezes?
Pois é... quem criou esses "fechamentos" clássicos, foi Tatiana Belinky.
Todos os programas que eles apresentavam na TV Tupi de 1951 a 1964, eram feitos ao vivo. O programa começava numa estante de livros. O narrador (Júlio Gouveia) dirigia-se até a estante, pegava um livro, informava o título da obra, o nome do autor, lia as linhas iniciais, e só então, a câmera passava para a história propriamente dita. Ao término da história, o olho da câmera voltava para o Narrador, que encerrava com "Entrou por uma porta...", se a história era completa, ou "Mas isso é uma outra história...", quando o programa tinha continuidade, como  o Sítio do Picapau Amarelo e nas minisséries de aproximadamente 80 capítulos, entre elas: Heidi, O Jardim Secreto, Pollyana, Angélica, entre outras.
Infelizmente, não era nascido na época que isso aconteceu - gostaria de ser. Mas tive a sorte de conviver, pessoalmente e profissionalmente, com Tatiana, que não só me relatou diversas histórias, como também confiou-me seus textos teatrais e  roteiros televisivos. É material que não acaba mais.
Em 2006, numa visita que fiz à Tati, ela me pediu para digitar os seus textos, porque uma editora queria publicá-los. E aí que a anta aqui percebeu, que ainda não havia um livro que reunissem todas as obras teatrais dela. Grande parte dos seus textos foram publicados na revista Teatro da Juventude. Eu possuía a coleção completa (1995-2002) e alguns exemplares da primeira publicação (1965-1972), e uma dúzia de textos datilografados, que não tinham sido publicados. Iniciei o trabalho. Fui à procura de mais textos em bibliotecas e, paralelamente, a isso, digitava suas obras.
Faltava pouco para acabar de digitar, quando um texto que encontrei na Teatro da Juventude, me chamou a atenção. Era assinado por Carlos Ney, e achei a escrita muito próxima a de Tatiana. E, em outra visita, perguntei:
- Tati, quem é Carlos Ney?
E ela, respondeu:
- Sou eu!
Fiquei em estado de choque. E fui procurar mais textos de Carlos Ney ao chegar em casa. E para a minha surpresa, eu tinha em minha biblioteca, muito mais textos da Tatiana do que imaginava. E o trabalho de digitação, que estava praticamente no fim, retrocedeu para a metade. E, pouco a pouco, fui descobrindo os heterônimos de Tatiana, até concluir a digitalização completa de suas obras. Acredito que encontrarei mais coisa ainda.
Seis anos depois que concluí o meu trabalho, a editora Perspectiva lançou o livro. No livro Tatiana Belinky: Uma Janela para o Mundo só foram publicados 18  obras. Agora é torcer para que os editores se interessem em publicar o volume 2, porque material é o que não falta.
Estou mergulhado agora nos roteiros para a televisão.Esses levarão mais tempo para digitar, porque encontram-se encadernados em grossos volumes - cada volume, com 600 laudas, no mínimo - são cópias de mimeógrafo (naquela época não existia xerox), e as folhas estão, praticamente, se esfarelando. É preciso ter o máximo de cuidado no manuseio desse material. 
Estou relendo muita coisa que já li, e, lendo também, o que ainda não li. E leio em voz alta. É tão prazeroso dizer os seus textos, é tão gostoso mergulhar no seu universo. Apesar de serem escritos na década de 50,  são atemporais e se adequam muito bem aos dias de hoje. Aliás, são melhores do que os textos de agora. Sem papas na língua e sem medo da censura. E é isso que tornam essas obras especiais.
Palavra de honra, Tati. Não vou deixar que esses textos se percam devido a ação do tempo. E me sinto honrado de fazer esse trabalho pra você.
Quanto ao desfecho... bem... isso é uma outra história, que fica para uma outra vez.

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