domingo, 2 de setembro de 2012

10 ANOS SEM A REVISTA "TEATRO DA JUVENTUDE"

Em 1965, quando foi convidada pelo então presidente da CET Nagib Elchmer para organizar um setor Infanto-Juvenil na Comissão Estadual de Teatro, Tatiana Belinky realizou um velho sonho: o de criar um Caderno de Teatro Escolar, estudantil e amador, nos moldes de publicações semelhantes em países da Europa e Estados Unidos, com 10 a 12 textos teatrais por edição, divididos em setores, segundo as séries escolares e também para universitários e amadores em geral. Foi assim que nasceu a Revista Teatro da Juventude.
Seu primeiro exemplar foi lançado em 1965. De 1965 a 1972 (ano em que sua publicação foi interrompida), saíram 43 edições .
Depois de 23 anos de “sono letárgico”, a revista “renasceu” em agosto de 1995. Publicada pela Imprensa Oficial através da Comissão Estadual de Teatro - na época composta por Afonso Gentil, Analy Alvarez, Carlos Meceni, Efrén Colombani, Luiz Amorim, Vera Nunes e Zecarlos de Andrade e com supervisão geral de Tatiana Belinky - , Teatro da Juventude voltou com o mesmo formato, inclusive com a belíssima capa criada por Flávio Império para a revista original.
As edições da revista eram bimestrais. O mais interessante é que, além dos textos teatrais, tinha uma área reservada para artigos, onde, grandes nomes do teatro como Hamilton Saraiva, Luis Alberto de Abreu, Enio Gonçalves, Eva Wilma entre outros, escreviam sobre dramaturgia, direção, iluminação, cenografia, figurino, sonoplastia, interpretação, entre outras coisas, além de dicas de leituras e uma seção de cartas, onde os leitores deixavam registradas ali, a sua opinião.
Esses exemplares deram a oportunidade para muitos dramaturgos divulgarem seus trabalhos. E, na época dos 500 anos do Brasil, em 2000, inúmeros clássicos da dramaturgia nacional tiveram seu espaço reservado na revista, em 16 edições, dos números 23 ao 38.
É evidente que vou deixar minhas impressões, sobre a importância da TJ em minha formação como artista. Foi através dela que conheci o texto A Sopa de Pedra, de Tatiana Belinky, que mudou o meu conceito sobre o teatro infanto-juvenil.
Eu tinha pavor de tudo que era direcionado para essa faixa etária. Os textos e montagens que conhecia, até então, eram bobos, didáticos, infantilóides, com a horrenda moral da história e sempre com aquele dedinho em riste de algum adulto apontando para a criança e “orientando” o que ela devia ou não fazer. Como isso me incomodava. Já falei isso milhares de vezes, e torno a repetir.
E quando li A Sopa de Pedra, percebi o quanto estava equivocado. Existiam peças infanto-juvenis de muita qualidade, sim. E essa informação, foi a TJ quem me deu. Através dela, descobri textos de Ricardo Gouveia (Fofo, Meu Amor e Cupido & Stanislavski), Gabriela Rabelo (Tronodocrono), Cláudia Dalla Verde e Zeca Capellini (Feitiço da Vila e Crocodilo do Nilo), entre tantos outros textos de dramaturgos incríveis. Estes que citei, hoje são meus grandes amigos e mestres, e encenei diversas obras escritas por eles.
Teatro da Juventude me proporcionou também, sem sombra de dúvida, um dos maiores e melhores encontros da minha vida, tanto no campo pessoal, como no profissional: com a maga da literatura e do teatro infanto-juvenil Tatiana Belinky.
Assim que terminei de ler A Sopa de Pedra, consegui o contato telefônico da autora. No mesmo instante, liguei para ela pedindo para conhecê-la. Tatiana abriu as portas de sua residência para mim, e lá fui eu, extremamente tímido, ao encontro de minha mestra. Foi uma tarde inesquecível - como são todas as tardes em que vou visitá-la. E saí de lá com uma pilha de textos de sua autoria, que não tinham sido publicados na revista e com um sorriso de orelha a orelha, porque sabia que poderia contar sempre com ela; com ela e com Ricardo Gouveia, seu filho, que também me recebeu com grande carinho. Como aprendi com eles! Como lhes sou grato por isso! E como continuo aprendendo.
A partir do momento em que voltei meu olhar para o teatro infanto-juvenil, não hesitei em procurar um curso de Arte-Educação. Sou formado há dez anos pela Faculdade Mozarteum de São Paulo, onde cursei Educação Artística com habilitação em Artes Cênicas. Como estava trabalhando com adolescentes, tinha que estar, no mínimo, preparado para poder dar aulas. E quem sugeriu que eu frequentasse esse curso, foi a própria Tatiana.
Em fevereiro de 2003, estive na Secretaria de Estado da Cultura para buscar o exemplar 46 e recebi uma triste notícia: a revista não seria mais publicada. Em dezembro de 2002, era lançada a última edição, a de número 45. 
Fiquei muito frustrado com a notícia. Quem teve a infeliz ideia de acabar com uma revista como esta que trazia textos maravilhosos e informações preciosas para estudantes de teatro, amadores e até para grupos profissionais? Foi uma tremenda burrada interromper essas publicações. Em sete anos, de 1995 a 2002, TJ publicou 161 peças.
E lá se foram dez anos desde a última edição. Dez anos sem Teatro da Juventude. Gostaria de acreditar que a Revista esteja novamente num “sono letárgico” e que, em breve, volte a ser publicada, como já aconteceu antes. E que traga, para essa nova geração, muitas informações, como as que recebi. Não se pode viver sem teatro. Não se pode viver sem essa preciocidade que é essa Revista.
Renasça, Teatro da Juventude. Você faz muita falta.

Julio Carrara 

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