sábado, 14 de agosto de 2010

MEU AMIGO BIGO

Ele apareceu na rua de casa, vindo sabe-se lá de onde. Eu o vi pela primeira vez na casa do Gustavo e, de imediato, me afeiçoei por ele. Peguei-o no colo não me importando com o seu mau cheiro e seus pelos embaraçados. Ele tinha um olhar melancólico. Tudo leva a crer que apanhou muito, pois a cada movimento um pouco mais brusco que eu fazia, ele se encolhia de medo. Júnior, sobrinho de Gustavo, deu-lhe o nome de Bigo (de bigode). E assim como eu, ele também se afeiçoou a mim. E toda vez que saía de casa, ele vinha ao meu encontro abanando o rabo e pedindo carinho. E quando voltava, ele estava à minha espera. Por diversas vezes eu o trouxe para minha casa, principalmente nas noites mais frias.No primeiro dia que o recolhi, coloquei-o debaixo do chuveiro, passei shampoo e em seguida aparei os seus pelos para em seguida penteá-lo , cobri-lo com um cobertor velho para aquecê-lo e colocá-lo numa caixa de papelão onde ele dormia. Ao lado da caixa, uma pilha de textos, que o pequeno, muito curioso, olhava com atenção. E assim que amanhecia o dia, eu o colocava no quintal, mas ele sempre saía pela fresta do portão e ia para o lugar que mais gostava, a rua... Quem nasceu pra ser livre, não pode ficar preso. Por esse motivo não o peguei, apesar de alimentá-lo e acolhe-lo quase sempre. A minha rotina era sair de casa e ver o meu pequeno correndo em minha direção. Eu o pegava no colo e o abraçava fortemente, para depois continuar o meu caminho. Anteontem a tarde, antes de pegar o ônibus, ele me seguiu até o ponto. Como sempre eu o abracei e ele me deu uma lambida. O ônibus chegou, e antes de subir, olhei praquele pequeno cachorrinho que me correspondia com seu olhar melancólico. Neste mesmo dia, ao retornar, não o encontrei. Ontem aconteceu a mesma coisa. Pensei: “Deve estar dentro da casa do Gustavo, afinal de contas, está muito frio.” Hoje saí cedo para uma reunião na Rádio e nada do Bigo. Ao retornar da Rádio, no final da tarde, as crianças da rua de casa vieram ao meu encontro e me deram a triste notícia de que Bigo foi atropelado por um filho da puta que dirigia feito louco. O ônibus que estava atrás do carro não conseguiu frear e também passou por cima do meu Bigo. Ainda não consegui chorar, mas estou me sentindo vazio. Vazio porque não terei mais a companhia do meu cãozinho, porque nunca mais o verei e consequentemente não terei mais o seu amor, o seu carinho, nem as suas patinhas dianteiras que se levantavam para pedir colo... Você me deu muita alegria, meu Bigo. E esteja onde estiver, você nunca vai sair do meu coração. Que saudade, meu fiel companheiro.


Julio Carrara 

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