terça-feira, 20 de julho de 2010

SHORTBUS

Tomei conhecimento deste filme através de Silvano, um amigo. Sempre que nos encontramos ficamos  conversando horas a respeito de filmes, livros, espetáculos...  E  ontem, ele me indicou esse  obra.  Pesquisei no Google, descobri que foi exibido em 2006 e que criou muita polêmica em torno das cenas de sexo explícito.  Acabei de assistir ao filme e confesso que fiquei chocado. Não pelas cenas de sexo, mas pelos depoimentos, pelas tramas em si. 
Reproduzo abaixo a matéria de Marcelo Hessel para o site Omelete.
Vale a pena conferir.

SHORTBUS - Uma celebração ao sexo
Fazer filme com diálogo improvisado, roteiro aberto e personagens criados a partir de experiências pessoais dos atores não é a coisa mais fácil do mundo. Demanda tempo e sensibilidade. Filmar tudo isso, mais inúmeras cenas reais de sexo, com orgasmos de verdade, numa escala maior do que de muito pornô, daí já é quase improvável.
John Cameron Mitchell levou quase três anos para conseguir.
Hedwig and the Angry Inch, peça da Off-Broadway que viraria o seu filme de estréia como diretor em 2000, Hedwig - Rock, Amor e Traição, já falava de sexo abertamente. Entretanto, Mitchell se ressentia de ter assistido, no final dos anos 90, a vários filmes que tratam o sexo com franqueza, mas ainda com uma certa carga, como se opção sexual fosse um fardo. Segundo o diretor, faltava provocação e até um pouco de humor. E daí começou a aparecer Shortbus (2006), que no fundo é um filme de celebração.
Para começar, Mitchell abriu testes a qualquer pessoa, ator profissional ou não. Não queria astros, porque astros não fazem sexo, diz. Pediu que os interessados mandassem fitas com o que eles achassem interessante contar. Muitos faziam confidências em vídeo, outros se masturbavam para a câmera. Uma pré-seleção chegou a 500 pessoas, depois a 40. O diretor convidou-os para a festa que mantinha, mensalmente, em Nova York, chamada Shortbus (que depois viraria o nome do filme). Ali observava flertes, afinidades, e anotava - afinal, um filme como o que ele projetava não seria possível sem corpos que combinam.
Do método de trabalho de John Cassavetes e Mike Leigh, duas inspirações confessas, ele tirou o modelo de improviso e preparação de elenco de que precisaria. Um espaço que permite ao ator manobrar, textualmente falando, mas que segue as linhas gerais do que está no roteiro. Na tela o que se vê são pessoas dedicadas - algumas mais talentosas do que outras, é verdade - mas o objetivo é alcançado: acreditamos que personagens e elenco são os mesmos. Porque, de certa maneira, são sim.
Uma babel de Hedwigs Paul Dawson registrava o seu dia-a-dia fotograficamente, e é daí que nasceu a inspiração para o personagem que ele interpreta, James. Na trama, ficamos sabendo que James está filmando sua rotina ao lado do namorado, Jamie (P.J. DeBoy). James filma porque algo o incomoda na relação, na sua vida. Para tentar resolver, visitam uma terapeuta de casais, Sofia (Lee Sook-Yin). O problema é que ela também está passando por uma crise: jamais chegou ao orgasmo com o marido, apesar de transarem convulsivamente. Entra no meio uma dominatrix com problemas de relacionamento, Severin (Lindsay Beamish). Ela quer auxiliar Sofia, mas não sabe como ajudar a si mesma.
Todos eles se encontram no Shortbus, um clube underground de Nova York que, segundo seu dono, é como um lugar hippie, mas sem a esperança. Ali se escuta música eclética, bebe-se, conversa-se. Um grupo de lésbicas se reúne de um lado, em outra sala uma dúzia de trincas e casais se conhece melhor. Boa parte do filme acontece no Shortbus. É uma celebração, sim, e há muito do humor que Mitchell dizia procurar. Mas há no ar, também, um sentimento de efemeridade. Não é uma festa que nunca termina.
É possível que o diretor não tenha calculado, de início, o contexto em que o filme viria a se inserir. Hedwig, com os seus dilemas existenciais, personagens marginais tentando se enquadrar num mundo harmônico, é pré-11 de setembro. Shortbus tem o espírito da Nova York pós-traumática, a harmonia daquele mundo caiu, e o assunto inclusive vem à tona dentro do clube. É uma metrópole em trânsito, expurgando seu passado mais remoto (na figura do prefeito), uma babel de Hedwigs tentando achar um denominador comum. Se antes, a busca era por uma individualidade, agora a procura é pela coletividade.
E o fato de todos em Shortbus terem noção da finitude das coisas é o que os une.



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