domingo, 25 de outubro de 2009

DO BLOG DO JOÃO FABBRO

Estou muito orgulhoso de você, rapaz... Me arrepiou o seu relato.

RELATO DE UMA PRÁTICA

Quinta feira, 02 de abril de 2009, 3h e 30min, saio do curso de italiano a caminho da UEL. É dia de performance! Qual é o tamanho do meu/seu cotidiano? Como questionar uma rotina marcando data e hora para tal? Como ser real, honesto, sincero comigo? Como interferir na rotina alheia de alguma forma, desviar o olhar do outro para uma quebra na realidade, um corpo parado, uma ingênua pretensão? (...) Os questionamentos me cercam antes mesmo de começar (onde começou?), como ser eu? Como me descobrir impar, singular dentro da minha existência inexistente? Como, de maneira artística, transformar a realidade que me cerca inflamando os sentidos que permeiam aqueles que seguem como cegos pelos espaços?
Ao chegar à UEL há nervosismo, ansiedade, medo, calor... Entro no banheiro, olho meus olhos e vejo vaidade, egoísmo, vejo-me pobre, pequeno, sinto nojo, uma pena medíocre de nada que sou. Troco de roupa, guardo as coisas na mala e sigo até a mesa escolhida, que está localizada na pracinha, em frente ao prédio do curso de Artes Cênicas. Cerco minha nova rotina com fita zebrada, interdito meu mundo sem saber o que faço, por que faço. Mais e mais duvidas... Estou querendo me aparecer! Sento sobre a mesa e começo a colar, ao seu redor, placas com os seguintes dizeres: “Não alimente o ator!”, “Não, alimente o ator”, “Não, isso é uma performance!”, “Deixe uma lembrança para o performer!”, “Que horas são?”... Eis que F (prefiro não nomear os bois, pois estes passam, apenas passam – e o que fica?), apresenta-se como ajudante. Auxilia-me no colar das placas, indaga sobre a utilização excessiva de fita, e ao termino, vai-se... Outros passam, olham, desolham...
T, está com Bi na mesa ao lado, há orientação. O sol é caldo quente, e como diz Guimarães Rosa, “no mais, mesmo na mesmice, sempre vem a novidade”. Eis a novidade, F volta portando um salgado e um refrigerante. Sinto-me cuidado, querido. Agradeço F. Sem palavras quero dizer-lhe não precisava se incomodar, e que grato estou... F senta-se, calmamente abre o jogo: Isso já passou dos limites, não quero mais! Em resumo, pede para que eu termine tudo as oito da noite, nada de 24 horas, nada de passar a noite na UEL, chega, isso é ridículo, você se precipitou, não era esse o combinado! Há um nome a se zelar, F tem nome! Mas eu não, só tenho vontade por hora, sem nomes, sem poucos medos... F não me dá tempo para tentar falar sem palavras, F, não quer escutar o performer... F se vai...
A, C, G também passam pela mesa, chiclete, escarro, olhares e sorrisos. M passa e senta, indaga-me: qual é seu medo? Sai, não há tempo para respostas... N chega! É um alivio, alegria confortante, calmaria e carinho sem restrição. A faixa zebrada que poderia interditar as relações não passa de uma faixa zebrada. Regras foram feitas para serem quebradas! Faixas, ultrapassadas. É leve, chega e indaga calmamente: E ai, como foi? Meu sorriso não mente o carinho. Sinto-me protegido, calmo, confortado mesmo que frágil ali, visível... N senta-se ao meu lado, no meu egoísta mundo vaidoso. Mostra-me que pode haver sim conforto. Conversa, fala sobre tudo e quer saber, quer ouvir o silencio comigo. Prestamos atenção nos pássaros, somos assistidos pelo sol que fecha o dia... N quer saber das minhas necessidades, pergunta sobre a fome, afirma frio e promete conforto travisseiral. Vai, com a certeza de volta, vai...
Tempo só (...). Frio! I chega para ensaiar e traz consigo pães de queijo. Um doce, uma beleza e um carinho impar, I é preocupação e apoio calmo, inteligente forma de olhar ao redor. I tem ensaio de TCC com seus atores, I vai... AA chega com sua mãe, esta, questiona minha sanidade. Há sãos, é só isso que penso... Eu enxergo e olho, amo e cuido, acredito e muitas vezes não faço, há sãos? AA também me alimenta o corpo, a carne. Vão...
Sento, deito, ando em pé no banco, em pé na mesa, pé de mesa... Quero folhas sem ventos. Pessoas, pessoas e mais pessoas, todos passam e ninguém vê. G volta para sua aula, passa por mim e pergunta se esta tudo bem? Logo quem, G, a pessoa que me ensinou que nada nunca esta bem, e que justamente o não estar bem e querer sempre o bem, mesmo sem nunca ter... Bem... G me oferece café, eu agradeço, não agradecido, G vai...
Finos pelos de burguês começam a se arrepiar... Deito sobre o banco. Procuro um equilíbrio no seu balançar. Quero me achar, quero ser sem equilíbrio equilibrado, quero uma terceira margem para meu rio, quero verdades mais sinceras do que simples bons dias... Não quero o automatismo que eu levo sem escolha. Sigo sem querer e sigo robótico, sem rio, sem margem, no balanço frio do banco gelado... Tenho medo de virar pedra...
A noite definitivamente chega sem siglas. São pessoas, apenas isso. Há exceções: J se apresenta a mim com todo cuidado. É a pessoa que cuida da secretaria geral nesse período noturno. J é cordial, um cavalheiro educado. Comunica-me que esta a disposição para qualquer coisa até as 23 horas, depois, o guarda já esta avisado que passarei a noite ali, e esta tudo bem... É um alivio. Por alguns instantes achei que F ligaria na UEL e mandaria me tirarem dali... É valido salientar o esforço e a bondade e a minha falta de conhecimento em adjetivos para exaltar a coragem, o profissionalismo e a compreensão de C, chefe do departamento, para defender-me, defendendo assim a integridade e as vontades, mesmo que equivocadas, de alunos, aspirantes a atores, artistas. C não forma atores, esforça-se na construção de seres humanos mais humanos. Agradecido!
Sinto-me só. Volto a deitar, sentar, andar, verbar sem falar... Eis que quando um sono parece chegar, o sonho me acorda: mulheres de minha vida! N volta bela! Consigo traz H, L e M. É feliz, atenção, carinho, conforto para mim e desconforto para N, que sente-se perdida e constrangida, não está a vontade para invadir mais uma vez meu mundo (mesmo estando mais dentro de mim do que eu...). H filma. Fico constrangido e nada é de verdade, ou melhor, as mentiras são verdadeiras mentiras... Aos poucos N volta a se aproximar. N trouxe comida, uma deliciosa torta de milho com ervilha e um suculento suco de morango com framboesa, pura sustância. H trouxe uma blusa, N, cobertor e travesseiro. Deito sobre a mesa, cubro-me. N senta no banco ao lado. Carinhos delicados, olhares sensíveis, os amores difíceis de Calvino. H, L e M se vão com I, N fica... Nesse meio tempo G sai da aula e se apresenta agressivo, sem mais preocupar-se com minhas possíveis necessidades, parece-me estranho, sem carinho ou qualquer afeto, G é aquilo que é, esférico...
N, após a ida de todos, continua. Persiste como o frio, que também a géla. Sentado do meu lado me beija, quer me seqüestrar, é humor, puro querer bem... Agradeço! Sustento-me frágil, inseguro, carente, covarde... O guarda chega, é um momento engraçado. Pede para que eu assine um papel, faço. Após isso, começa a conversar com N sem parar, N, quer ficar mais alguns instantes a sós comigo, o guarda não deixa, fala sobre sua família, sobre filho, filha que dorme com o radio ligado, um absurdo, vai dormir, não vai escutar nada... N e eu nos divertimos calados. Vejo as luzes que se acendem e se apagam, logo percebo que está noite serei eu o vigia da lua... N se vai...
Resta a noite. Frio, sono sem vontade de dormir. Nada, ninguém. O vento faz as arvores falarem. O som dos carros que passam ao longe, na rodovia, é constante, é o tempero distante da noite. O sono vem sem ser. Chega e não chega. Sou embriaguês, olhos perdidos que vêem o guarda ligar os alarmes dos prédios ao redor. Ao passar por mim pergunta à rotina: tudo bem? Como escutei e escutarei isso até o fim dos tempos... Faço que sim com a cabeça, o não explode dentro de mim com frio, dúvidas, medos, incertezas certas, confusões, saudades... Nada, ninguém... Vento, frio, sono... Apago... Cubro a cabeça e os pés se descobrem, descobrem-se gelados. A noite não para...
Ao avançar da madrugada acordo assustado. A lua esta baixa e cachorros latem... Sim, eu latiria. Há um corpo sobre uma mesa, normalmente nada há sobre mesas, há alimentos, cotovelos, cadernos e tantos outros substantivos que habitam essa praça, mas não um corpo tremulo sob uma manta. Latem, latem, latem... Latem, latem, latem... Latem, latem, latem... Quietos! É o grito do simpático guarda. Nada, eles apenas latem. Primeiro distante, e aos poucos se aproximam. Eu sento, fico em pé, mostro que só sou gente (só sou gente)... Eles latem! É ritmado, chega a me enlouquecer. Não sei por quanto tempo fora, sei que cansei de buscar alternativas para que eles calassem os latidos. Deito novamente, eles se aproximam. Penso, F tinha razão... Engano! Deixo, exausto, braços me escaparem do resto do corpo, caem da mesa como um desistir... Eis que o silêncio repentinamente volta a reinar na ensurdecedora noite. Cachorros lambem minhas mãos... Sim, eles são mais humanos que eu... Choro calado, lambido... Com toda bondade e carinho, deitam-se comigo, me aquecem... O tempo vai-se com o sono...
Alarme dispara! Gélo gelado, os cachorros gélam quente, saltam em saltos em direção ao prédio, abandonam-me sem ao menos me darem tempo para agradecer... Vão, perdem-se nos tapetes, corredores, carinhos de guardas. O alarme silencia, a noite, mais uma vez, silencia com vento, rodovia, arvores e sonos perdidos...
Portas batem, uma moto estaciona perto. A rádio UEL não esta a muitos metros da minha mesa cama. A noite ainda é noite, e eu a querer dia... Encolho o corpo em feto, só assim a manta pode ser toda minha, cabeça, pés... Apago!
Ao voltar para o mundo o dia esta dividido em noite. O olhar vem com o cantar singular dos pássaros que também acordam. Vejo tudo e sinto a falta de não ser um pouco Monet para poder expressar de forma tão impressionista cantos, formas, exatidões em movimentos eternos, etéreos, efêmeros... O dia vai se tornando só dia. Meu sono de noite vem comigo, acompanha-me. I é a primeira a chegar à UEL. Procura por uma pasta preta com papeis importantes. Saúda-me nervosa, quer sua pasta. Chama o guarda, que lhe faz a gentileza, abre o departamento. Feliz encontro pela manhã, pasta e dona, cantos de pássaros, raios de sol, frio que aos poucos se vai... Sento na mesa, I está na outra. Como os pães de queijo que ela me trouxera no dia anterior, é meu café, alimento do corpo e carinho para o espírito...
Outros chegam, olham, param. O sono não me deixa ser simpático. Piadas me cansam. Pelo começar das aulas tenho noção das horas... RC chega. Fantasia, momento singular. RC não coloca sua bicicleta onde costuma colocar costumeiramente, cotidianamente (cotidianamente)... Para, ele para, mesmo tendo como ponto forte o se agitar, para. RC só olha. Não conseguimos nos olhar, os olhos não se cruzam, mas ambos, os quatro, transbordam sais minerais... Silêncio molhado e salgado. Queria apenas abraçá-lo, beijar-lhe. Uma imagem que não me sai do corpo... Gesticulo à RC, de forma limpa e carinhosa, informo-lhe que pode colocar a sua bicicleta no lugar de costume, ao lado da minha, dentro de meu mundo zebrado. Noto aqui, que a quebra da rotina esta na diferente repetição, o mais óbvio, o mais difícil... A bicicleta no mesmo lugar, dias e dias, anos já, mas sempre diferente, sempre novo e vivo... RC consegue. Ele, cabisbaixo o faz e me saúda com um tímido e forte jóia. Nesse meio tempo algumas pessoas passam, param, olham e não enxergam, vão. Mas RC não, fica ali. Sinto que meu questionar é seu questionar, felicidade sonolenta, apago... Ao abrir dos olhos a luz é forte, vejo as costas de RC a limpar lagrimas...
Pessoas e mais pessoas. O dia chega, a rotina volta, horários, aulas, pessoas e mais pessoas, pressa! Uns olham, outros nem isso, mas sempre há relação... RC, antes de entra definitivamente na sala, traz duas mulheres que me avistaram de longe e preocupadas ficaram... Elas perguntam a rotina, de forma carinhosa e preocupada, mas não deixa de ser a rotina: tudo bem? Queriam saber se precisava de algo. Fiz que não, mas tanto elas como RC perceberam, sempre precisamos de algo...
Deito, não quero deitar. Sinto-me vagabundo. Tenho fome e uma vontade insuportável (que fora suportada) de fazer xixi. Pessoas e mais pessoas, sono que vem e vai, boca amarrada, silencioso corpo que carrega a noite para o dia. Não sei mais o que fazer... Não sei se um dia soube, percebo-me influenciado, perdido sem um amparo, um pedido, um imperativo... É, definitivamente, muito mais fácil obedecer ao ser rebelde. Obedecendo tenho a plena certeza de estar amparado se algo der errado, sem ordens, sou eu, erro eu... Vontade de sumir...
Mais e mais pessoas, sempre mais e mais pessoas. É a rotina dos olhos, olhar, ver ou não ver, não enxergar, julgar, dar um leve sorriso, compadecer, questionar a sanidade alheia, abaixar a testa, fazer movimentos no plano da horizontalidade com a mesma, sair...
LZ perde a aula. Não há o que fazer, logo, pede-me permissão para se sentar ao meu lado, quer conversar com o calado dos gestos. Senta e fala, fala, fala. Muitas vezes só me basto ouvindo, calado, acabado... O sono me mostra duas LZ... O sol pretende vencer o frio da noite. LZ começa a ler Shakespeare, “Romeu e Julieta”... Pássaros, cinco, brincam ou brigam na grama perto. Ninguém percebe, sinto-me ninguém.
I volta, LZ está a ler na minha mesa (egoísta possessividade necessária para viver). S, professora nova do departamento, vai até a mesa ver o que acontece. Lê as placas. Passa-me, sem fazer nada, uma riqueza, um estar tão bem com tudo que a cerca, uma calma segura... A calma se vai quando avisto F chegando do estacionamento. Traz consigo empadas de frango e piadas do tipo: performance histórica, releitura dos anos 60. F tem de entender que não era nascido nos anos de seu auge, e que livros de histórias não me bastam como prática... E de uma vez por todas, agradecido pelo alimento carnal, mas sou vegetariano, não degusto animais... Respiro sol e me volto para meus ouvidos aguçados, que calados sentem mais... A construção do prédio, ao lado de onde estou, é uma orquestra digna de John Cage, ironia ou não o prédio ampliará abrigo do departamento de musica.
Aulas se acabam pela manhã. Mais uma vez só. Mais uma solidão estranha, solidão cheia. Mais e mais pessoas passam... Sou passarela... Apenas olhos vazios, indignos de pluralidades. I passa por mim e pergunta sobre minha fome. Agradeço, não mais quero incomodar ninguém, quero ser só ser eu, me achar em mim... I volta com uma marmita e dois jogos de talheres, digna de qualquer plural... I me cala com sua bondade e carinho, sou grato, cheio de lágrimas grato.
O sol começa a querer ser sol. À pino, à luz! Transpiro, sou gotas, lagrimas sem razões, suores que me descem à prestação... A chegada de pessoas me mostra a hora. A Rotina alheia me faz lembrar a minha, o que deveria estar a fazer. Ansioso espero a chegada de G na faculdade, ele tem montagem. Espero um olhar. G passa sem me ver... Pessoas se enganam... Vácuo, vazio, nó que não sai da garganta, sono que cansou de tentar sonar não sana mais... Agora, como sempre, resta esperar...
Espero, sento, deito, ando e vejo que verbar não faz mais sentido... Nunca fez! As folhas da arvore, que me cobrem como uma peneira, transformam-se. Não há mais as diferentes tonalidades que havia notado pela manhã, tonalidades ricas de verdes que tomam para si, o sol, de diversas maneiras. Uma arvore, muitas folhas... Não há mais! Há sim uma goma de verde cinzento que se apresenta muito bem definido perante os meus olhos. Rio do riso... Não é possível que isso não vai acabar... De repente, como que um milagre, Sl, a conhecida e desconhecida Sl, apresenta-se no espaço com uma voz distante do meu mundo, uma voz que me invade os poros: tudo bem? Definitivamente simnão... Sl traz consigo uma mini bandeja de isopor amarela, um vivo amarelo que me rouba o verde cinzento. Apenas diz: olha, trouxe pra você, come, ta geladinho. Sl vai... Eu, mais uma vez pingo pelo sentido visual, pingo pela bondade humana que ainda se faz viva e renascida... Abro os saquinhos plásticos opacos que envolvem a badeja, é um doce, uma bomba de doce de leite com cobertura de chocolate e pedaços de morango e cerejas. Sl é o doce da minha infinita tarde... Lambuzo-me, volto a ser a criança que esse adulto, barbudo e responsável, tenta esconder dia após dia... O doce me seca a boca, mas não os olhos. Sinto saudades da minha casa materna, sinto uma alegria tão grande que chega a ser tristeza, a tristeza de ser alegre por demais...
Sorrio, apenas sorrio. O tempo há de passar em algum momento. As pessoas passam... Penso na minha avó, sua voz, ao telefone, carregada de tempo, rugas sábias, velhice calma, sem pressa de morrer e eu com medo que ela acabe... Transbordo mais um pouco, sou cheio...
Momento impar! X (x é um incógnita na matemática, um numero desconhecido, um x, sujeito indeterminado), passa por mim com seu uniforme azul marinho da UEL. Porta duas coloridas garrafas de café que contrastam com seu visual apagado. É um tanto quanto fabuloso o destino de Amelie Polain, o X (não é mais um x) porta garrafas vermelha e verde. A opacidade de sua aparência é compensada por uma doçura imagética fantástica. X passa, para, lê, entende e desentente, não carece de sabedoria para ver a beleza de ser X. Olha ao redor. Estou sentado, apreciando aquele que me olha mudo. Procura algo que não entendo, e no ar, acha o mais real dos ilusórios copos de café. O tempo para! X faz que abre a garrafa verde, faz que serve o café, faz que me dá... Eu faço que pego, é um café de coração quente! Um dos maiores alimentos de alma que poderia receber de um X... O café está delicioso, agradeço calado, pasmo, sem acreditar que no que ele me fez, humano! Mais uma vez me calo com minhas precipitadas conclusões. S e X são exemplos de seres cães, daqueles que fazem bem sem saber a quem...
As horas, após amoroso café, parem ser mais suportáveis. Sentado estou sobre a mesa. A arvore não filtra mais o sol. É sol! Meus olhos estão cansados, sinto-os vermelhos, inquietos na exatidão de um olhar perdido. Há tempo para ver as nuvens se dissiparem. Formas que acabam em azul eterno... Tudo é muito estranho, e confesso ter a consciência de saber que precisaria de mais alguns dias, quem sabe semanas, para saber definir, não em palavras, mas no corpo, toda essa frágil estranheza que me toma... Sinto-me mais e mais angustiado. O sumir das nuvens é o nascer de medos, incertezas...
Sentado continuo continuando. Continuo vendo tudo que não me vê, tudo que passa e deixa passagem para inúmeros e inevitáveis pensamentos criadores. Livres fluxos de idéias... Homens podam arvores e empilham galhos. O serrote que corta galhos indisciplinados fere-me. Sou complacente às arvores, elas, afinal de contas, seguiram comigo pela madrugada, não me abandonaram por um segundo se quer, mostravam-me a dos ventos para que pudesse, em vão, me esconder. São fies! Choro calado o corte... Sinto-me tronco morto, sentado, poder nada fazer...
Pingo lagrima e suor, pingo... Vejo que as pessoas começam a sair das montagens. O dia da performance esta perto de acabar... Medo forte. C, amiga não tão próxima, mas sabia e precisa em horas necessárias, apresenta-se com uma gelada água. Sem nos olharmos estendo a mão e bebo a carinhosa água. Alguns momentos não carecem de olhos, eles reverberam na pele... C vai e volta com um sabonete liquido, estendo as mãos, ela, delicadamente passa o sabonete em minhas mãos, depois, refresca-me o espírito com uma água gelada que desensaboa... Nesse mesmo momento FB chega e diz: G mandou eu vir aqui para te libertar! E de forma invasora, coloca as mãos sobre meu limite mundano, está prestes a rasgar uma faixa que presencio minhas ultimas e tão experenciosoas 24 horas. Não! É minha primeira palavra depois de 24 horas calado, não, eu mesmo posso fazer isso! FB sai sem muito entender, soaria grosseiro para quem de fora visse, mas como, só eu estava dentro, só eu poderia saber tudo que ocorrerá nesse ultimo dia, seria abrir mão de muito egoísmo deixar que outros rasgassem meu pequeno mundo. Não, não muito mudei...
Acabou! Foi o grito calado que explodia em cansaço dentro de mim. Uma explosão implodida, morta e medrosa. Não quis sair. Hesitei, não por um ou dois segundo, hesitei por uma eternidade... Tudo parecia cair ao redor, as pessoas sumiam à vista e na lembrança, N com seu/meu "amor impossível", Sl com meu doce infantil e X com a magia que só lhe pertence, e que por alguns segundos me deu o privilégio de ter... Tudo definitivamente cai, cai em lagrimas, mais uma vez... Levanto-me, calmamente, com uma tranqüilidade medrosa, tiro a faixa que me protegerá, que me interditará a rotina, a vida por um dia, faixa que me deu vida... Cuidadosamente tiro as placas, estas foram coladas com fitas adesivas que deixam marcas no espaço. Há marcas no espaço! Espaço que me questiona: é de quem usa, de quem o faz, ou daquele que apenas vê, ou de todos esses, espaço do espaço? Não quero respostas, apenas quero perguntas, apenas...
Acabou? (...)

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