sábado, 24 de agosto de 2013

CHICO BELEZA

Pelas areia da istrada
Com as perna já meio bamba
Um dispotismo de gente
Vinha cantando num samba
Fazendo um grande berreiro!

E quem puxava a istruvanca
Era o Mané Cachacero,
O mais grande dos violero
Que im tudo sertão gimia!
E era assim que ele cantava
e no canto assim dizia:

 “Diz os véiu di otras era que quando
São João sintia sodade de Jesus Cristo
e de sua companhia,
garrava logo na viola pra chora sua sodade
e a sua melancolia!”

Entonce logo os apostro
Assombrando o istruvia
Cada um pé de verso
Cantava no desafio.
A mãe de Cristo chorava
E as água que derramava
Da fonte do coração
Caia nas corda santa
Da viola de São João

Pra via disso é que o pinho
Instrumento sem rivá
Quando se põe-se chorando
Se põe-se a gente a chorá,

Foi aí neste festero
Que eu vi o Chico Cambaro
Um sambadô sem sigundo
Mas porém feio, tão feio
Que toda a gente dizia
Que foi o home mais feio
Que Deus butou neste mundo!

Tinha a cara de priguiça
Cabeça de mono véio
E pescoço de aribú!
A boca quando se ria
Taquarmente paricia
A boca de um canguru!
Tinha as oreia de porco
E os dente de caitetu
Tinha barriga de sapo
E o nariz impipocado
Figurava um jenipapo.
O braço era taliquá
Dois braço sirigaito
Dum véio tamanduá
Os óio – dois berimbau
As perna fina alembrava
As perna dum pica-pau
O quexo de capivara
Tinha um bigode purriba
Que quage tapava a cara!
Os cabelo surupinho
Era, em tira nem pô
Cabelo de porco-ispinho!
Im concrusão, pra findá,
Tinha os dedo de gambá
Os ombro redondo e chato
E os pé que nem pé de rato!

Inda mais: pra compretá
Aquela xeringamansa
A feiúra do pagode
O home, quando se ria
Era um cavalo rinchando
E quando tava suado
Tinha um oroma de bode.
Apois bem.
Essa raboeza
Que era pru todas as boca
Chamado: Chico Beleza,
Esse horrive lobisome,
Que era mais feio que a fome,
Mais feio que o Demo inté,
Quando as perna sacudia,
Sambando nargum banzé
Enfeitiçando as viola
Apaxonando as muié
Trazia toda as caboca
Cumo um capaxo dibaxo
Das duas sola dos pé!!!


Poema de Tatiana Belinky, escrito em 1960 para o programa Teatro da Juventude, exibido pela extinta TV Tupi. 

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