sábado, 26 de julho de 2014

CADA OBRA PERTENCE AO SEU TEMPO

Machado de Assis escreveu essa frase numa advertência que abre seu romance Helena. Nesta advertência, ele explica que fez algumas alterações na obra após sua primeira impressão - que pertence à sua fase romântica. Como sabem, se não sabem, saberão, que Machado transitou pelo Romantismo e pelo Realismo - e pede desculpas por soar romanesco, mas que encontrava naquele romance, ecos de sua mocidade.
Recentemente fiz uma revisão e algumas atualizações (principalmente de gírias) de meus textos teatrais. É evidente que meu texto de estreia não é tão maduro quanto meu texto mais recente, mas fazendo essa atualização, tentei nivelá-los.
Hoje, enquanto limpava minha estante de livros, me deparei com a frase de Machado. E cheguei à conclusão que não deveria atualizar minhas peças - até porque as gírias usadas em 1994 são bem diferentes das gírias usadas em 2014. 
Fiz essa atualização depois que vi a montagem de uma coletânea de textos de minha autoria pela Escola Recriarte, no ano passado. O grupo fez algumas modificações no texto, o que me estimulou a rever algumas coisas. E essa revisão levou semanas. Se não fizesse isso, poderia ter escrito outra peça.
Outro fator que me fez refletir a esse respeito, foi encontrar em cadernos antigos, os manuscritos das minhas três primeiras peças. Assim que concluía os textos à mão, passava a limpo na máquina de escrever. E quando comprei meu computador, nunca mais fiz isso.
Com a posse dos manuscritos, passando os olhos sobre eles, encontrei alguns diálogos ingênuos, bobos, e até esperançosos, que estão bem distantes daquilo que escrevo atualmente. Mas como foi bom reler isso... Foi como retornar aos meus dezessete anos.
Pois é. Aprendi. Nunca mais revisarei nem atualizarei meus textos. Porque, como disse nosso escritor: "Cada obra pertence ao seu tempo."

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