quarta-feira, 13 de junho de 2012

ME DÁ UM ABRAÇO? E FICA AQUI, COMIGO?

Sempre fui chorão. Desde pequeno. Claro que na devida medida, afinal de contas, chorar é preciso. Alivia, purifica, é saudável...
E, ultimamente, não tenho chorado. Não porque não quero, mas porque não consigo. Nem assistindo aos filmes A Viagem do Capitão Tornado e Cinema Paradiso, que, uso como muletas para liberar o choro. Nem ouvindo Legião Urbana, Nino Rota, Madredeus, Ennio Morricone, Enya, Loreena que sempre me emocionam. Nem lendo um livro, analisando uma obra de arte. Nada mais me toca, como se estivesse engessado por dentro.
Parece que cheguei naquele estágio em que as pessoas ficam anestesiadas (quando a dor que sentem é muito grande), quando o grito fica entalado na garganta e não sai, mas, internamente, está latente, como um mar revolto e que causa dores fortíssimas no esterno, e por mais que o massageie em movimentos circulares, a dor não cessa. Acho que aprendi a conviver com essas dores no esterno e no coração. Elas estão presentes, praticamente, o tempo todo.
Paro de escrever por alguns segundos, para respirar profundamente, olho para o lado. zapeio os canais da TV com o controle-remoto e na Rede Record, tá passando um programa da Igreja Universal e com a legenda: "Se você está desesperado, venha para a reunião do...". Sei lá que porra de reunião. Mudo de canal e aperto a tecla MUTE e volto para o texto. 
Não é indo à igreja que resolverei os meus problemas pessoais, profissionais e financeiros. E não é porque sou ateu, que minha vida tá uma merda.  Trabalhei durante 3 anos para uma emissora de rádio espírita, e os meus problemas só aumentaram, e minha grana só foi minguando.. E quando saí de lá me senti melhor. Não preciso de religião e nem de Deus. Só acredito naquilo que vejo e que posso tocar.  
E tô cagando e andando para julgamentos. As pessoas julgam o tempo todo. Querem mudar o mundo, mas elas veem o mundo pelo lado de fora, como se não fizessem parte dele. Aí fica difícil tentar mudar algo. 
Seria muito bom se eu recebesse agora, neste momento, um abraço bem apertado. Mas um abraço sincero, que não fosse um abraço frouxo, daqueles que são dados, "por educação ou obrigação". E que alguém viesse me abraçar, sem que eu fosse ao seu encontro e sem que precisasse pedir. E que esse abraço durasse horas. Acho que é só isso que preciso. 
Mas enquanto isso não acontece, voltarei a me fechar em minha concha. Porque sei que estarei protegido Nem falarei mais sobre sofrimento, porque "as pessoas adoram falar sobre sofrimento. Escancarar suas vidas sofridas para que nos apiedemos delas." (frase do texto Homens, Santos e Desertores, do Mário Bortolotto). 
Não vou a psicólogos, porque sei o que vão me dizer. Na faculdade tive aulas de Psicologia durante quatro semestres, e conheço os macetes. 
Durante muito tempo fui a sessões de psicoterapia para tratar do meu trauma - por um erro medico, durante uma cirurgia no braço esquerdo, aos 9 anos, o meu tendão foi cortado, fazendo com que a mão esquerda atrofiasse, e junto com o  tendão, foi cortado também, o meu sonho de continuar tocando piano. 
A única frase que o terapeuta me disse e que me marcou, foi:
- Se você está com esse problema em sua mão, aceite. E seja amigo dele.
E foi o que fiz. Sou tão amigo deste problema  e até brinco com ele. 
Na época da cirurgia, em 1984, a Medicina ainda era precária. Hoje, com os avanços, tenho certeza que, em breve, terei as duas mãos funcionando perfeitamente e voltarei a estudar música.  Por isso, sou desencanado.
Meus maiores psicólogos, muito melhores que Freud, Jung, Reich,  são o teatro e a escrita. E são com eles que trabalho com essas neuroses, transformando meu sofrimento em obras de arte.
Detesto expor minha vida pessoal, e se o fiz, é porque precisava colocar pra fora. Necessitava disso. 
Tenho consciência da imagem que passo é a de uma pessoa feliz, de bem com a vida, por estar sempre sorrindo. Eu amo a vida, quero viver até os 120 anos - E VOU VIVER, mas também tenho crises de angústia, tristeza, depressão e solidão, como todo mundo. 
- ME DÁ UM ABRAÇO? E FICA AQUI, COMIGO?



Julio Carrara 

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