Vejam o que Milton Ayres escreveu sobre a peça.
Quando conheci o Rhobson, um baixinho simpático, divertido e com um sorriso enorme, não pude imaginar que dentro dele houvesse um talento dramático latente tão gigantesco e vigoroso. Isso até assistir ao espetáculo “O Anjo Maldito”, um monólogo de Julio Carrara, em que interpreta um garoto de programa atormentado e agonizante, aos sábados e domingos, no Espaço das Artes.
A história é muito parecida com milhares de histórias que ouvimos por aí de jovens de famílias desestruturadas que acabam se perdendo pela vida e tendo um final trágico. Pois com este jovem não vai ser diferente. Morto aos 17 anos por uma gangue de criminosos, ele passa e rememorar toda sua trajetória, enquanto agoniza nos segundos finais de sua vida.
É através de flash-backs e alucinações que ficamos sabendo que, em criança, ele presenciou uma discussão entre seu pai alcóolatra e sua mãe, que culminou com a morte acidental dela e a fuga dele. A partir deste dia ele jura vingança e sai pelo mundo à procura do pai. Começa morando na rua, como muitas crianças brasileiras que são obrigadas a sair de casa, passa a fazer malabares nos faróis e engraxar sapatos, até que descobre o mundo ilusório das boates e começa a ganhar a vida como go-go boy e, posteriormente, michê.
Assim como no jogo de xadrez temos que pensar muito bem antes de mover uma peça, também na vida somos obrigados a escolher nossos passos e muitas vezes somos colocados em xeque. Talvez por isso, como forma simbólica, um tabuleiro de xadrez tenha sido escolhido como cenário. Nele, o protagonista contracena com algumas peças, que representam os personagens que marcaram a sua vida. Ao fundo, projeções de imagens de um ultrassom de feto, animações de lutas sanguinolentas, efeitos sonoros, uma iluminação dramática e uma trilha musical meio progressiva, meio angustiante pontuam as cenas, preparando para o clímax.
Embora as escolhas pareçam acertadas e tudo esteja devidamente engrenado, não fosse o desempenho do ator satisfatório, o espetáculo iria por água abaixo. É aqui que Rhobson del Kishall nos surpreende e dá um banho de interpretação e talento. Sua aparência frágil e imberbe ganha uma vitalidade e uma força descomunais nas cenas. Seu sorriso habitual desaparece e ele incorpora uma expressão de sofrimento, raiva e ódio. As lentes de contato vermelhas são apenas um complemento para ajudar na composição do personagem. Sua expressão corporal, seus gestos premeditados, os malabarismos que faz no palco e até mesmo no teto estão perfeitos. Sem falar nas cenas em que se expõe totalmente ficando nu e no difícil trabalho de manter a atenção da platéia em um monólogo. E tudo isso feito por um ator iniciante! O que me leva a crer que o Rhobson está no caminho certo e que seu talento merece ser descoberto. Bendito seja este anjo!
http://mmayres.blog.uol.com.br
Quando conheci o Rhobson, um baixinho simpático, divertido e com um sorriso enorme, não pude imaginar que dentro dele houvesse um talento dramático latente tão gigantesco e vigoroso. Isso até assistir ao espetáculo “O Anjo Maldito”, um monólogo de Julio Carrara, em que interpreta um garoto de programa atormentado e agonizante, aos sábados e domingos, no Espaço das Artes.
A história é muito parecida com milhares de histórias que ouvimos por aí de jovens de famílias desestruturadas que acabam se perdendo pela vida e tendo um final trágico. Pois com este jovem não vai ser diferente. Morto aos 17 anos por uma gangue de criminosos, ele passa e rememorar toda sua trajetória, enquanto agoniza nos segundos finais de sua vida.
É através de flash-backs e alucinações que ficamos sabendo que, em criança, ele presenciou uma discussão entre seu pai alcóolatra e sua mãe, que culminou com a morte acidental dela e a fuga dele. A partir deste dia ele jura vingança e sai pelo mundo à procura do pai. Começa morando na rua, como muitas crianças brasileiras que são obrigadas a sair de casa, passa a fazer malabares nos faróis e engraxar sapatos, até que descobre o mundo ilusório das boates e começa a ganhar a vida como go-go boy e, posteriormente, michê.
Assim como no jogo de xadrez temos que pensar muito bem antes de mover uma peça, também na vida somos obrigados a escolher nossos passos e muitas vezes somos colocados em xeque. Talvez por isso, como forma simbólica, um tabuleiro de xadrez tenha sido escolhido como cenário. Nele, o protagonista contracena com algumas peças, que representam os personagens que marcaram a sua vida. Ao fundo, projeções de imagens de um ultrassom de feto, animações de lutas sanguinolentas, efeitos sonoros, uma iluminação dramática e uma trilha musical meio progressiva, meio angustiante pontuam as cenas, preparando para o clímax.
Embora as escolhas pareçam acertadas e tudo esteja devidamente engrenado, não fosse o desempenho do ator satisfatório, o espetáculo iria por água abaixo. É aqui que Rhobson del Kishall nos surpreende e dá um banho de interpretação e talento. Sua aparência frágil e imberbe ganha uma vitalidade e uma força descomunais nas cenas. Seu sorriso habitual desaparece e ele incorpora uma expressão de sofrimento, raiva e ódio. As lentes de contato vermelhas são apenas um complemento para ajudar na composição do personagem. Sua expressão corporal, seus gestos premeditados, os malabarismos que faz no palco e até mesmo no teto estão perfeitos. Sem falar nas cenas em que se expõe totalmente ficando nu e no difícil trabalho de manter a atenção da platéia em um monólogo. E tudo isso feito por um ator iniciante! O que me leva a crer que o Rhobson está no caminho certo e que seu talento merece ser descoberto. Bendito seja este anjo!
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