segunda-feira, 14 de maio de 2012

MINHA MÃE MORREU

Eu não conseguia chorar. Estava anestesiado. Parecia que o chão havia desaparecido debaixo dos meus pés. Meu cérebro recusava a aceitar aquilo como verdade.
Assim que ela morreu, um forte perfume de rosas penetrou pelas minhas narinas. Não havia nenhuma rosa no quarto. Cheguei perto dela e, então, percebi que o perfume exalava do seu corpo...
Uma borboleta entrou no quarto. Pousou por um instante na parede, um pouco acima do leito, e saiu atordoada pela janela.
Olhei pela janela do quarto pra ver o céu. Estava cinzento naquela triste manhã de outono. Nenhuma coisa se movia na cidade morta.
O corpo foi velado. O tempo não passava aumentando as horas de angústia. Não sentia mais fome, nem sono, nem cansaço. Só um vazio imenso dentro do peito. Minha mãe estava serena no caixão e livre de qualquer condição de dor...
Depois de muito tempo comecei a chorar. As lágrimas vieram como uma torrente. Olhava para aquela mulher no caixão e pensava em todas as coisas boas que havia me feito. Todos os sacrifícios e os anos de dedicação a mim.
Quando vi os coveiros colocando o caixão e depois murando o túmulo, é que caiu a ficha. Estava sem o meu norte. Por um instante, achei que aquele pesadelo ia terminar. E quando o último tijolo foi colocado, despertei para a dura realidade. Eu não tinha mais a minha mãe.
Fiquei ali, no cemitério, sozinho, até a hora de fechar. Depois fui a pé para minha casa. Cheguei no portão e fiquei olhando para porta. Estava sem coragem de abrir porque saberia que não a encontraria mais ali. Depois de quase meia hora e completamente embriagado de sono, decidi entrar.
Assim que abri a porta, senti o perfume de rosas que exalava a minha mãe. Deitei na cama e senti o seu abraço, me embalando, da mesma forma que ela fazia quando eu era criança. E adormeci por dois dias.


Julio Carrara 

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