terça-feira, 31 de agosto de 2010

VENDEM-SE DRT'S EM TROCA DE UM SALÁRIO MÍNIMO

Isso mais parece nome de novela.
Antigamente, há mais de dez anos, para ter esse tão sonhado documento, era necessário que o candidato tivesse concluído uma Universidade ou cursos técnicos reconhecidos pelo MEC.
Outra alternativa era passar pelos exames da SATED. O candidato recebia duas apostilas - uma de legislação e outra técnica onde continha informações básicas da História do Teatro e da Literatura Teatral formulada por Haydée Bittencourt, para a realização de uma prova escrita.
O candidato aprovado passava para a segunda fase, que consistia numa entrevista, leitura à primeira vista e a apresentação de cenas, uma dramática e outra cômica – não me lembro se havia monólogo - com no máximo 5 minutos, para a terrível banca examinadora que decidiam o seu destino, numa sala abafada e fedorenta onde aconteciam os testes práticos, (Sala Myrian Muniz – deveriam homenageá-la dando o seu nome numa sala decente que estivesse à altura do seu enorme talento e generosidade. Saudades eternas, grande mestra), do Teatro Ruth Escobar.
Pensam que já terminou? Ainda não. Em seguida, o candidato em questão, ainda precisava assistir a palestra de capacitação (da qual já falei) para então pegar o documento e dar entrada no Ministério do Trabalho, da Martins Fontes, e assim, após algumas semanas, ter a sua carteira de trabalho carimbada e assinada, concluindo parte da odisseia. Esse procedimento não se usa mais, meus caros. Nem em São Paulo, nem no Rio. Vocês só precisam preparar a pasta com os trabalhos e a documentação e levar ao Sindicato. E, é claro, assistir ao monólogo sobre legislação.
“Vendem-se DRT’s em troca de um salário mínimo.”, com letreiros garrafais e luzes de neon é o slogan do Sindicato caça-níquel…
O que vocês acham de montarmos um show de humor com esse título? Eli Corrêa, Richard Godoy e outros artistas do stand-up, opinem.
E mesmo não sendo Sábado de Aleluia, por que não nos reunimos na Praça Frei Baraúna ou outro lugar qualquer e fazemos a malhação da Lígia, nosso Judas pós-dramático?
Devido à venda do DRT, fizeram de nossa profissão, motivo de piada. Qualquer um pode tê-lo. Basta pagar. Por esse motivo, de uns tempos pra cá, surgiram tantas aberrações no mercado. A televisão está infestada delas.
Se você estiver num espetáculo como “Lisístrata”, por exemplo, e dizer para uma dessas criaturas que Aristófanes está na plateia, é capaz da múmia acreditar e querer cumprimentá-lo ao final do espetáculo.
Não sei se é do conhecimento de vocês, mas se alguém tiver o diploma de uma Universidade onde tenha cursado Artes Cênicas – não sei quanto aos cursos técnicos – é só levá-lo ao Ministério do Trabalho, direto, sem passar pelo Sindicato.
Então se alguém vier com um papo de que você precisa se sindicalizar para pegar o DRT, muito cuidado para não cair nessa: PARA TER O DRT NÃO É NECESSÁRIO SE SINDICALIZAR. Você se sindicaliza se quiser. Não é obrigatório. É importante ter o DRT, sim. Se tiver grana para pagar, beleza. Pegue o DRT e não se sindicalize.
Acho importante ter o CCM (Cadastro de Contribuintes Mobiliários) de Artista, que pode ser tirado em qualquer uma das Subprefeituras do Município de São Paulo, pois é através deste documento que contará o seu tempo de trabalho e que garantirá sua aposentadoria. Senão, dá pra tirar em Sorocaba mesmo, o ISS de Autônomo.
Sugiro também que procurem a Cooperativa Paulista de Teatro e se associem a ela. Você paga um valor anual, que equivale a menos de vinte reais por mês, tem advogados ao seu dispor, assim como diversos convênios médicos, cursos gratuitos, seguro de vida e uma série de benefícios que o Sindicato não oferece. E a reunião de integralização não dura mais de 2 horas. Posso lhes assegurar que serão muito bem tratados. Sou associado há vários anos e não tenho nenhuma reclamação. Vários sócios da Cooperativa são ex-sócios da SATED. E por esse motivo o Sindicato (Lígia) tenta a todo o custo, prejudicá-la, fazendo sindicâncias para ver se descobre alguma irregularidade e coisa e tal. E isso já dura vários anos, como a eterna briga do Sílvio Santos com o Zé Celso.
A atriz Teodora Ribeiro, da Cooperativa, inclusive, foi agredida fisicamente por Lígia de Paula – viram o nível da fulana? – durante a apresentação de “Palestra de Capacitação”, seu monólogo de 4 horas, que acontece uma vez por semana na sede da SATED. O público, composto por jovens recém-profissionais, presenciou toda a cena. Viram o que acontece a quem ousa interromper o seu monólogo?
O motivo da briga: a criação de outra chapa. Como existe apenas uma chapa na SATED, é evidente que Lígia seria eleita, pois é a única representante. Se houvesse outra chapa, o reinado da rainha chegaria ao fim e a Velha Senhora teria que voltar às suas origens, visitando, quem sabe, os sets de gravação numa refilmagem de “Oh! Rebuceteio”, (Cláudio Cunha, o que acha da ideia?) ou no teatro, com o solo “Nua na Banheira”, numa versão hardcore, de deixar a Rê Bordosa no chinelo. (Angeli, me desculpe.)
Alguém poderia me informar sobre a filial da SATED/Sorocaba, assim como o seu número de associados? Acredito que o quadro é bem pequeno, talvez meia dúzia ou nem isso. E por esse motivo houve esse boicote no Festival da ATS – pra elevar esse número. E agora, dona Lígia? Quem vai pagar os prejuízos referentes à suspensão do festival?
E se preparem porque novos boicotes ocorrerão. A LINC é a próxima vítima e até algum espetáculo que esteja em cartaz na cidade. E é possível que a fiscalização do Sindicato baixe no Cine Dom José, exigindo DRT das strippers; e nas escolas também, para saber se os alunos tem o documento. Se não tiver, não pode subir no palco para apresentar um espetáculo concebido para as aulas de Artes, pois é exercício ilegal da profissão... Francamente, vão tomar em seus respectivos cus, urubus.
A propósito, gostaria que me esclarecessem algumas dúvidas.

1. Qual é o endereço da SATED/Sorocaba? Não faço ideia de onde seja.
2. Quem nomeou Mário Pérsico para presidi-la e por quanto tempo ele permanecerá por lá? Espero que não seja chapa única e cargo vitalício como ocorre na sede paulistana.
3. Que benefícios o Sindicato oferece para a classe? Se continuar como está, precisaremos de convênios na área de psiquiatria.
4. Onde será construído o Retiro dos Artistas? (Preciso ir para lá daqui a algum tempo.) Talvez ao lado do aterro sanitário ou em algum lugar com vista para o ma...to.
5. Haverá casas próprias a preços facilitados, como as que são – ou eram - oferecidas pelo SATED/SP? Eu não conheço nenhum artista que resida numa casa própria oferecida pelo Sindicato.
6.Teremos advogados para cuidar dos nossos interesses? Alguns produtores costumam nos dar calotes.
7. Para onde vai o salário mínimo da compra do DRT, assim como a contribuição sindical do mesmo valor, pagos anualmente pelos sócios? Excetuando o pagamento do presidente, claro.
São perguntas que precisamos fazer. Não basta que fiquem cagando regras.
Sorocaba, apesar de ser uma cidade grande, não tem mercado de trabalho. De que adianta os artistas possuírem o registro profissional se não tem onde exercer a profissão e ser remunerado para isso? Temos poucas salas, poucos produtores, muitos sobre(vivem) atuando, dirigindo ou produzindo espetáculos com a verba da LINC e em espetáculos que, talvez, não lhes diga nada. Fazem pelo dinheiro, afinal, precisamos dele para viver. Se algum grupo tem um projeto maravilhoso de uma montagem de “Mãe Coragem e seus Filhos”, do Brecht, por exemplo, sem sombra de dúvida, não será aprovado. Motivo: não fala dos tropeiros e outras personalidades sorocabanas. Mas isso é um assunto que fica para um próximo artigo. Infelizmente não peguei o auge do teatro sorocabano com montagens antológicas como as de Roberto Gill Camargo, Carlos Roberto Mantovani, entre outros grandes nomes. Mas guardo com muito carinho algumas imagens e sensações da época em que participava do Núcleo de Artes Cênicas do SESI, coordenado por Edeméia Pereira, nos anos 90. Aquele teatro fervilhava de gente. Filas enormes que dobravam o quarteirão, espetáculos com temporada de seis meses. Nunca mais vi isso.
E o Projeto Ícaro? O Festival Tropeiro? E aquelas maluquices (com todo o respeito) do Mantovani? O que era aquilo? Fico arrepiado só de lembrar. Quantas coisas incríveis. E ninguém enchia o saco. Como era bom ser livre.
Mas a ditadura chegou a Sorocaba. E se nos calarmos a coisa vai piorar. Se continuar como está, não dou um ano para os dramaturgos precisarem levar seus textos aos censores para aprovação; para os atores serem arrancados do palco pela polícia, tomarem choque no cu e cagarem no pau-de-arara. Será que teremos que abusar de metáforas como fez Dias Gomes, Chico Buarque, entre outros nos anos 70? Infelizmente o Brasil está retrocedendo no tempo, apesar de todo o avanço tecnológico. A censura está aí. Antes velada. Hoje, quase explícita ou explícita mesmo.
Ah... Outra instituição caca-níquel, além da SATED, veio dar os ares da graça em Sorocaba. A ECAD. E a fiscalização está grande. Você não pode usar nenhuma música num espetáculo se não pagar a taxa. Taxas, taxas, taxas... Daqui a pouco os fiscais estarão nos recintos de festas juninas proibindo o uso das músicas que animam a quadrilha (ou cobrando taxas), você vai receber uma carta de cobrança por ouvir som alto no conforto do seu lar, e não se assuste se aparecer um fiscal na sua casa no dia do seu aniversário e proibir (caso não receba o pagamento da taxa) que seus amigos lhe cantem “Parabéns pra Você”. Espero não presenciar isso. Ah, pessoal, após 70 anos da morte do compositor, as músicas são de domínio público, viu? Orquestras de Sorocaba, como irão se virar?
Infelizmente não estou envolvido em nenhum projeto teatral na cidade de Sorocaba. Mas tenho muitos amigos que estão. E consequentemente foram prejudicados com essa rasteira. E escrevo esse manifesto em nome deles. Se eu, que estou de fora, me senti profundamente agredido, lesado e humilhado, o que dizer daqueles que passaram dias, semanas, meses, debruçados sobre um espetáculo, e de repente viu tudo ir por água abaixo? A vocês, meus queridos amigos, que sofreram esse golpe traiçoeiro, toda a minha consideração e respeito.
Vaias para a burrice, ao egoísmo, às sanguessugas que usam o “poder” para foderem com colegas de trabalho.
Quem cometeu essa insanidade não pode ser chamado de artista. Deveria voltar à escola, se é que freqüentou alguma, para rever alguns conceitos. Onde está a humildade, a generosidade e a ética, hein? Se não ajuda, não atrapalha, porra!
VIVA O TEATRO AMADOR. E exercê-lo, não é exercício ilegal da profissão... SATED, meus amigos, é uma instituição falida! Tenho consciência de que posso ser muito criticado e até ameaçado (aliás não tenho medo de ameaças) pelas minhas opiniões. Mas é o que penso. E pelo que sei, ainda existe liberdade de expressão nesta merda de país. Não gostou? Caguei. A carapuça serviu? Reflita sobre. O que não posso, é me calar diante de toda essa pilantragem.

Julio Carrara 

Um comentário:

  1. Lamentável essa burocracia do sindicato em cima dos atores amadores. Ainda bem que não havia ninguém como a senhora Ligia de Paula na França de 1959 ou instituições como a SATED/Sorocaba para atrapalhar a obra de arte do diretor Robert Bresson e seus atores amadores no filme Pickpocket.

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